Sabemos que a “Instituição maçonaria” costuma ser motivo
de muita curiosidade e algumas vezes de especulação no
meio da população; por ser uma sociedade filosófica carregada
de simbologia, achamos naturais estas lucubrações, portanto,
antes de tudo gostaríamos de defini-la para que possamos
discutir alguns tópicos da relação dos seus membros
com a sociedade onde ela está inserida.
Para este desiderato peço ajuda a um dos nossos irmãos de
Ordem, o genial Sir Isac Newton que disse, há muitos anos:
“A maçonaria não é uma obra exclusiva de uma época, pertence
a todas as épocas e, sem aderir a nenhuma religião,
encontra grandes verdades em todas elas. Não se apoia senão
em dois sustentáculos, extremamente simples: O amor a
Deus e o amor ao Homem, que leva em si a divindade e caminha
para ela”.
A história da maçonaria se perde no mistério dos tempos;
estudos arqueológicos têm mostrado a presença de alguns
dos nossos símbolos incrustados na antiga civilização egípcia;
no entanto, sob o ponto de vista de registros documentados,
o ano de 1717 é considerado um marco muito importante
da maçonaria especulativa, quando foi criada a Grande Loja
da Inglaterra.
De lá para cá os princípios da maçonaria tornaram-se
imutáveis e nossa profissão de fé é repetida em todas as lojas
maçônicas do mundo: “Creio em um só Deus, Supremo
Arquiteto do céu e da terra, dispensador de todo bem e juiz
infalível de todo mal”.
Não gostaria de cair na tentação de enumerar os deveres,
a conduta e, sobretudo como se deve pautar o relacionamento
do maçom como cidadão, no meio da sua comunidade.
Seria fácil e até tentador, pela obviedade das afirmações,
seguir este plano, até porque todos os mandamentos de boa
conduta poderiam ser encontrados em qualquer livro texto de
boas maneiras; no entanto, resisto à tentação e enveredo pelo
caminho mais árido, a conotação filosófica deste relacionamento.
Falar do maçom como cidadão é fazer um corolário sobre
a ética e a moralidade; a moral representa o ponto mais alto
da vida espiritual do homem e que é regulado por princípios
emanados do Grande Arquiteto do Universo e ética é o conjunto
de regras e preceitos de conduta moral de um individuo
ou de uma sociedade.
Para simplificar o entendimento, podemos definir,
parafraseando Oscar Wilde, estes dois “landmarks” da vida
do cidadão com o seguinte enunciado:
“Tudo aquilo que o cidadão faz quando está em público
chamamos de ética e se esta mesma ação, também não for
feita quando ele estiver sozinho, chamamos de moralidade”.
O maçom, como cidadão, assume um compromisso
espontâneo e solene diante da sua própria consciência: a luta
contra suas próprias fraquezas, buscando sempre o elevado
sentido da vida no aperfeiçoamento da moral.
Ao cidadão comum que bate pela primeira vez à porta do
nosso templo, não lhe é perguntado sobre seus bens materiais,
sua profissão, se possui brasões de nobreza ou títulos
definidores da sua intelectualidade, apenas lhe é perguntado
se ele é um cidadão livre e de bons costumes.
Esta senha, que não é apanágio da maçonaria, abrirá não
só as portas do templo maçônico para o profano que pretende
se iniciar em nossa ordem, mas também é a chave que conduzirá
todos os homens ao interior do ?templo da humanidade?,
porque ela é condição ?sine qua non? para que um indivíduo
possa ser considerado um cidadão com todos os direitos e
deveres inerentes a esta condição.
A liberdade, para nós maçons, é o fundamento da moralidade
e esta é o alicerce das nossas ações, permitindo ou até
mesmo facilitando que ele, o maçom, ocupe posição de relevo
perante a sua sociedade; esta posição carrega em seu bojo
uma carga de obrigações que o demanda a compor com os
elos desta corrente Institucional que está constituída há muitos
séculos e que resistiu à prova do tempo.
Se a carga positiva de ações acumuladas por esta Instituição
poderá facilitar as movimentações do cidadão maçom no
mundo profano, também encerra uma responsabilidade
muito maior da que é cobrada a outro cidadão não Maçom.
Sua vida e suas ações, como um espelho, refletem e ecoam;
para conviver com os demais cidadãos que não ultrapassaram
os umbrais do nosso templo, ele precisa libertar-se das
suas próprias ambições, saber palmilhar o caminho escuro da
incerteza, buscando sempre a lei moral como estética de
conduta; fugir do mal e do erro, na constante perseguição da
harmonia e do belo.
Como cidadão, o maçom precisa sentir a nobreza da própria
generosidade, de tal forma que se foi ele quem semeou,
não seja ele quem vai colher os frutos da sua própria semeadura;
por ser livre, nunca imporá a sua fortaleza diante do
fraco; não dogmatiza a sua verdade, se esta verdade não possui
foro de verdade aceito e comprovado; o seu direito termina
quando começa o do seu vizinho.
O cidadão-maçom, nas palavras do meu inesquecível
amigo e irmão de Ordem, Dr. José Normanha de Oliveira
“Deve tentar responder a esta inquietante pergunta todos os
dias da sua vida: Nascemos com coração e razão, somos itinerantes
da eternidade, em trânsito para a perfeição. Para
onde nos conduz esta marcha inexorável e continua do tempo,
que transforma, a cada momento, o pequeno e efêmero
presente em passado?”.
A resposta a esta inquietante indagação o cidadão-maçom
encontrará na filosofia da nossa Ordem, porque ela prepara o
terreno onde florescerão a justiça e a paz; sua arma de duelo é
a espada da inteligência, ela exalta tudo o que une e aproxima
as pessoas e repudia tudo aquilo que divide e as isola.
Nossa Ordem é muito mais que um grupo de pessoas que
se reúne para um objetivo exclusivamente social e filantrópico;
ela é, antes e acima de tudo, uma entidade filosófica que
procura influenciar o mundo ao seu redor com seu modelo de
pensamento, cujo desiderato é o respeito pela pessoa humana
e o bem estar da comunidade.
*O Irmão Hélio Moreira, é membro da Academia Goiana
de Letras, Academia Goiana de Medicina, Instituto Histórico
e Geográfico de Goiás