Há muito pouco tempo, caminhava com a sensação de que não havia chegado aos 60 anos de idade. Ontem, 19 de setembro, completei 70 anos. Não compreendi ainda esta pressa do tempo comigo! Foi tudo muito rápido. Nem percebi! A roda do tempo me imprimiu movimento de alta rotatividade. Dedico aos meus amigos de todos os sábados este artigo que ouso intitular com escusas de “Poema da minha vida”.
Amo a poesia, porem não sei fazê-la. Penso que sou um poeta inédito, que se esqueceu de escrever, mas vou tentar neste espaço, abrindo o coração.
Homens e mulheres não gostam de revelar suas datas de nascimento, só indicando o dia e o mês que nasceram, ficando como segredo o ano em que vieram a este mundo, resistência maior, por parte das mulheres. Uma muito sincera me disse: “Falo a verdade, não diminuo minha idade, não digo de jeito nenhum ou falo com clareza, mas não em voz alta, falo baixinho, não preciso ficar anunciando minha idade”
Esta semana fiquei em conflito. Falo ou não falo que iniciei uma outra década de minha vida? Decidi que sim, pois a vida deve ser vivida com intensidade, serenidade e coragem, até nossos últimos dias.
Mário Quintana, gaúcho, jornalista, tradutor, considerado um dos maiores poetas do século XX, natural de Alegrete, Rio Grande do Sul, viveu 88 anos, terminando sua trajetória terrestre em 5 de maio de 1994. Iluminadamente disse sobre a vida e o tempo, em um dos seus mais belos textos.
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê, passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo… E tem mais: não deixe de fazer algo que gosta devido a falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá, será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.”
Se não fiz perfeitamente o dever de casa, acho que não fui reprovado. Não dou importância e nem incentivo conflitos. Minha vida é dedicada mais à paz interior, aos estados contemplativos, tratando os assuntos com moderação, reforçando capacidades de amar e de fazer o bem.
Uma semana de saudades, as mais caras. Muito doidas, do pai Juvenal, da mãe Alice e da única irmã, Zilma, que Deus levou para o espaço espiritual, na conclusão de mais encarnações para os seus aperfeiçoamentos. Como gostaria que eles estivessem aqui comigo, materialmente, mas me considero premiado pela vida, pelo que me passaram e ensinaram.
Sou privilegiado pelos amigos que ganhei em Goiás e no Brasil. Com eles caminho semeando boas sementes, através da atividade maçônica e da missão no Programa Maçonaria a Favor da Vida ? Contra as Drogas.
Sou muito grato pela consideração, carinho e bem querer com que me cercam os irmãos de Ordem, suas esposas “cunhadas” e seus filhos “sobrinhos”. Mas o meu maior patrimônio, construído nestes 70 anos é a minha família, com o amparo da companheira Vera Lúcia Brandão Barbosa, da alegria e o orgulho proporcionado pelos filhos, Ivana, Flávio Henrique e Isabella, netos Paulo Henrique e Vinícius, nora Eliane e genros Márcio e Elcione, razões de minha existência. Sem eles não seria possível fazer o dever de casa.
Se fosse possível e Deus me concedesse o tempo, avançaria com vocês amigos, família maçônica, talvez além dos 100 anos, livres de amarras, com intensidade, até que o ciclo do renascimento começasse outra vez.
Monteiro Lobato, em sua inesquecível obra, “Sítio do Pica-pau Amarelo”, narra a conversa entre Emília e o Visconde de Sabugosa:
“A vida é um pisca, pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar, quem para de piscar, chega ao fim materialmente. Piscar é abrir e fechar os olhos, viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes nesse mundo, Senhor Sabugo, é isso, um rosário de piscados. Cada pisco é um dia”.
As recomendações para qualquer tempo na vida é ter capacidade de aprender com cada fato novo, ajudar a causa da evolução humana, aproveitar o que cada momento traz de bom e útil, mantendo atividades produtivas, voluntárias ou profissionais, desarmando os conflitos emocionais e os rancores em cada relacionamento pessoal, manter o humor leve, apreciando a beleza das coisas e sorrindo para a vida.
Em Cora Coralina, aos 70 anos de minha vida, me inspiro na poesia “A vida”.
“Não sei se a vida é curta ou longa demais. Mas sei que é preciso para fazer sentido, tocar os corações. Ser colo que acolhe, berço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, lágrima que corre, olhar que acaricia, amor que promove.”
Aqui neste espaço que é da comunidade e que se tornou meu ponto de encontro todos os sábados com os amigos, declaro-me muito grato ao Diário da Manhã e a este símbolo do jornalismo goiano corajoso, que é Batista Custódio, por me possibilitar ter o meu cantinho em que expresso o meu pensar, com esperança, fé, amor, esforçando-me para cada dia ser melhor.
Na música “Tocando em frente”, de Renato Teixeira, na voz de Almir Sater, eu me curvo a Deus em oração pelos 70 anos de vida.
“Ando devagar por que já tive pressa, e levo esse sorriso porque já chorei demais, hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe. Só levo a certeza de que muito pouco sei, nada sei.
Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs. É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz para sorrir, é preciso chuva para florir.
Penso que cumprir a vida seja simplesmente, compreender a marcha e ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro levando a boiada, eu vou tocando dias. Pela longa estrada eu vou, estrada eu sou.
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega, no outro vai embora. Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz.
Ando devagar porque já tive pressa, e levo esse sorriso porque já chorei demais. Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega, o dom de ser capaz e ser feliz”.
Retemperado estou diariamente pela companheira Vera Lúcia, filhos Ivana, Flávio Henrique e Isabella, netos Paulo Henrique e Vinícius, por amigos de perto e de longe pelas redes sociais, irmãos maçons de todo país, colunas que me mantem de pé, para olhar para trás e para frente, dando valor no passado e crendo no futuro, pois o tempo não para.
Sou feliz, amo a vida, dela sou aprendiz.