Como o faço desde 9 de fevereiro de 2011, neste artigo completando o de número 223, sem falhar um só sábado. Este inicio com o meu pensamento vagueando sem destino, como se tivesse sendo uma folha seca levada pelo vento em momento de muita preocupação.
Estamos vivendo em tempo de desonestidade, que significa ser indigno, torpe, desprezível e devasso. É doloroso moralmente, diante do silêncio de “Excelências” que compõem a Comissão Parlamentar de Inquérito, sobre a Operação Lava Jato, ouvir de cabeça erguida e empáfia, cantando música de Roberto Carlos, Nelma Kodama, presidiária e amante, durante 9 anos, do doleiro Alberto Youssef, que “sem corrupção o Brasil para. O Brasil parou com a Operação Lava Jato”. Pergunto aos amigos de todos os sábados. Ela falou verdade ou não?
Em outras declarações advogados e empresários presos disseram que “a propina faz parte do jogo se a empresa quiser vencer a concorrência”.
A desonestidade é no Brasil a regra e a exceção, a honestidade. Os que tentam ser honestos são alvos de grande pressão e muitos pagam preço muito alto. Mas quero chegar no porquê de tantos homens públicos, a grande maioria, estarem envolvidos em constantes e seguidas ações desonestas, já não sentindo na face o rubor da vergonha, achando-se ainda perseguidos pela imprensa, chorosos na televisão, humildes e demonstrando inocência.
Penso até que o culpado é o povo eleitor, que elege para a administração pública, representantes que não tem outro interesse senão o de vantagem pessoal. Em campanhas fazem as melhores promessas de trabalho e o povo acredita. Não as cumprindo, são verdadeiros desonestos que vão se juntar a outros que se encontram enraizados neste campo de atuação política.
Assim, busco Dan Ariely, professor israelense de economia comportamental, que já foi tema de um artigo nosso, em frases: “Se você colocar uma pessoa claramente desonesta na sala, isso aumenta a tentação à desonestidade nas outras pessoas.” Em testes feitos, Ariely plantou junto a um grupo de pesquisados, um aluno seu, que visivelmente trapaceava. Na companhia desse, o número de trapaceiros duplicou. Ariely afirma categoricamente: “Fraudar é infeccioso”.
Em reportagem do jornalista e maçom Helmiton Prateado, intitulada “A retomada dos deveres”, aqui no Diário da Manhã, edição de 18 de maio, declarei: “Estamos vivendo um momento que o importante é ter sucesso na vida a qualquer custo, independente de causar malefícios para nossa existência, para nossas famílias e para nossa sociedade. Isto corrompe o sentido da cidadania, que é formar cidadãos corretos, honestos, que desenvolvem suas lutas e se tornam bons empresários, bons políticos, bons chefes de família”.
Práticas assim corrompem o sentido de cidadania. A origem do malefício que provoca degradação, reside em vícios morais difundidos por veículos e mídia deploráveis e programas de televisão que corroem costumes, como novelas e seriados imorais. Sociedade deformada produz maus cidadãos. Podemos ter claro que a próxima geração deverá ser pior que a atual, porque estamos formando nossos jovens assim. A fábrica em que estamos fazendo nossa mocidade é de uma cidadania de êxito, sem levar em consideração qualquer valor.
A política do Brasil na atualidade é incentivadora para o mau cidadão, para a corrupção. É preciso retomar o trabalho de construir bases para a virtude e para a cidadania com urgência, pensando nas duas gerações à frente. Recolhi algumas frases que mais ainda fortalecem minha inquietação.
“A honestidade nos negócios é coisa do passado, e os que tentam ser honestos estão condenados ao fracasso”.
“Meu trabalho é fechar contratos para minha empresa. Ofertas de suborno são comuns. A tentação de ganhar dinheiro fácil é grande”.
“Os empregados talvez achem que recorrer à desonestidade é o único modo de atingir as metas dos patrões e gerentes”.
“Nós pensávamos que tínhamos que fazer isso… De outra forma, a empresa iria a falência”.
“Colegas de trabalho e clientes às vezes sugerem ou até exigem, que você participe de esquemas desonestos”.
“Um gerente de um importante cliente disse que não faria mais negócios comigo se eu não lhe desse sua parte”.
“Em muitos países, autoridades corruptas exigem um pagamento antes de realizar suas obrigações e aceitam prontamente dinheiro em troca de tratamento especial”.
“É sempre difícil distinguir uma gorjeta de um suborno”. “A desonestidade é considerada normal, necessária e aceitável, desde que você não seja pego”.
É incrível que as pessoas que fazem algo desonesto, como estamos assistindo pelas televisões no presente momento no Brasil, se consideram honestas, tentando transmitir que o seu comportamento foi correto e que estão sendo injustiçados. Vivemos a época de que a desonestidade só é criticada quando descoberta e as pessoas que conseguem se safar são consideradas espertas por sua “criatividade”.
Concluo com a pesquisa de Dan Ariely. “Um por cento das pessoas é sempre honesta. Um por cento, sempre desonesto. O problema é com os outros 98%”. Para onde você acha que vão os 98%?
Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br.