Vou ao livro “Pequenas Biografias de Grandes Maçons Brasileiros”, Editora Maçônica, de Nicola Aslan, escritor com extensa obra sobre temas maçônicos, também em pesquisas diversas encontrei um dos filósofos mais considerados de sua época, por sua inteligência e erudição, Cônego Januário da Cunha Barbosa. O escritor e biógrafo Aslan ocupou a 6ª cadeira da Academia Maçônica de Letras do Rio de Janeiro. Um dos fundadores da Academia Brasileira Maçônica de Letras. Ocupou vários cargos no Grande Oriente do Brasil. Entre seus biografados, um de feitos gloriosos e uma vida iluminada.
Januário da Cunha Barbosa, nascido no Rio de Janeiro em 1780, morreu em 22 de fevereiro de 1846, antes de usar o titulo de Monsenhor com que fora distinguido alguns dias antes. Foi nomeado Cônego da Capela Imperial em 1824. Orador sacro, professor, jornalista, polemista político, parlamentar, poeta, prosador e maçom. Aos 9 anos de idade perdeu os seus pais sendo criado por um tio paterno que lhe deu toda a educação. Optou por ser padre. Ordenado em 1803. Cônego Januário assombrou aos seus contemporâneos com a sua personalidade, bela inteligência, realçada pela cultura, pela sua palavra fácil. Na Ordem Maçônica iniciado em 1821 na Loja “Comércio e Artes”, cujos membros pretendiam a constitucionalização e a independência.
A respeito de Cônego Januário da Cunha Barbosa, escreveu o biógrafo, historiador, ensaísta, romancista e professor, Afonso d’E Taunay: “Afiliado a um grupo a que pertenciam como figuras de maior destaque, Gonçalves Ledo, Frei Sampaio, J.J. da Rocha, Luis Pereira da Nóbrega, passou a pertencer à Maçonaria, onde ativamente trabalhou pela liberdade brasileira. Bela inteligência realçada pela cultura, homem de palavra fácil, pena vigorosa e vivaz. Era das personalidades de maior relevo no meio fluminense, quando começaram os acontecimentos do constitucionalismo.
Redigiu juntamente com Gonçalves Ledo o “Revérbero Constitucional Fluminense”, jornal político, vibrante, arauto da independência nacional que desde o primeiro número, em 15 de dezembro de 1821, angariou merecido e elevado prestígio, mantendo incandescente o patriotismo brasileiro.
Companheiro de Ledo, teve a honestidade para reconhecer o amigo como o verdadeiro construtor de nossa Independência. A essa dupla deve-se a proclamação ao Imperador forçando-o ao “Fico”, em 9 de janeiro de 1822.
Na fundação do Grande Oriente Brasiliense, foi eleito para exercer as funções de Grande Orador e no desmembramento da Loja “Comércio e Artes” n° 001 do Grande Oriente do Brasil, foi sorteado para fazer parte da Loja “Comercio e Artes na Idade de Ouro”. Dela foi Venerável Mestre em dois mandatos, reerguendo-a em 1830. É autor do primeiro hino maçônico de que se tem notícia, publicado no boletim do GOB de 1965. Em estrofes assim é cantado: “Quem te segue os passos firma no caminho da virtude. A velhice e a juventude devem teu clarão prezar. Neste novo templo unidos em santa fraternidade, honramos a divindade por um culto singular”.
A sua fidelidade à Maçonaria, foi exemplar e motivo de orgulho para a instituição que o teve e o tem como um de seus membros mais dedicados e destacados.
Depois da Independência foi perseguido, preso e deportado para Havre na França. Com a queda dos Andradas, retomou ao Brasil, sendo recebido por D. Pedro com inequívocas demonstrações de apreço e nomeado Cônego da Capela Imperial. Foi escolhido para redator do Diário do Governo. Tomou parte ativa nos debates políticos da imprensa onde eram plasmados os caminhos da Pátria nascente. Um dos pontos marcantes de sua vida intelectual, com extensão até os dias de hoje, foi a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no ano de 1839, do qual foi secretário perpétuo, fundando a Revista do Instituto, que publicou até o sétimo volume, ao mesmo tempo que mantinha correspondência com os cultores da história e da geografia pátrias.
Foi escritor político de renome, poeta, autor de sermões, discursos, comédias e outras produções literárias. Em 1824, eleito deputado estadual pelas províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, optando pela representação da província do Rio. Diretor do Diário Fluminense e diretor da Tipografia Nacional, quando tornando-se suspeito pelos liberais, foi demitido. No ano posterior é reintegrado. Redigiu a resolução dos signatários da constituição do Grande Oriente Brasileiro. Em 1837 abandonou a vida pública. Em 1844 nomeado diretor da Biblioteca Nacional, função que exerceu até sua morte.
Deixou entre outras obras “Os Garimpeiros”, “Rusga da Praia Grande”, “Poema Nictheroy”, além de numerosas poesias satíricas e estudos biográficos. Em 1848, com a presença do imperador, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro inaugurou o seu busto, onde está na sala das sessões.
Tenho orgulho de também pertencer à Loja “Comércio e Artes” 001, Primaz do Grande Oriente do Brasil, quando 65 maçons de Goiás me conduziram ao Rio de Janeiro em 26 setembro de 2011, para receber o título de membro honorário desta histórica Loja, que completa no dia 15 de novembro próximo, 200 anos de fundação. Viagem organizada, planejada e mobilizada pelo irmão Francisco de Assis Azeredo Oliveira, na intimidade “Chico”, de quem não me esqueço em minhas orações.
Finalizo este artigo com a frase do Cônego Januário da Cunha Barbosa: “Filha da ciência e mãe da caridade, fossem as sociedades como tu, ó Santa Maçonaria, os povos viveriam eternamente numa idade de ouro”.
Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br.