Na sequência da missão que assumi de percorrer os Grandes Orientes Estaduais e o maior número de Lojas Maçônicas, sempre levando meu posicionamento embasado em harmonia e avanço de nossas práticas, estive nos dias 17 e 18 de outubro, em Belém do Pará. Recebido como sempre pela cordialidade do Grão-Mestre Moacir Terrim, Adjunto Bitar Tadeu, Grão-Mestre Honorário Valdemar Chaves Coelho, Expedito Ferreira Coelho, amigo de redes sociais e leitor semanal dos artigos publicados pelo Diário da Manhã.
Inicialmente participamos de uma concorrida sessão maçônica proferindo palestra na Loja Lauro Sodré, presidida pelo venerável mestre Welington da Silva e logo na noite seguinte na Loja Vigilância e Perseverança, conduzida pelo venerável Otávio Rangel. Sessão que me proporcionou estar com grande número de irmãos de Belém e outras cidades, entre eles, Moacir Terrim, Bitar Tadeu, Valdemar Chaves Coelho, Edilberto Pereira da Silva, Rivaldo Miranda, John Roncon, Expedito Ferreira, veneráveis mestres, com a conclusão de um jantar ao ar livre, com a culinária típica paraense, quando fui presenteado pela melhor farinha do mundo, segundo os maçons da cidade de Bragança.
No relacionamento com os setores sociais do governo estadual, exerce importante função o professor Expedito Ferreira, secretário do GOB – Pará, que desenvolve projetos junto às secretarias de Educação, Extraordinária de Governo e Extraordinária de Políticas Sociais, que tem como titulares a professora Ana Cláudia Serruya Hage, Helenilson Pontes e Izabela Jatene, respectivamente. Por eles em comitiva liderada pelo Grão-Mestre Moacir Terrim fomos recebidos e muito bem acolhidos com relação aos projetos maçônicos, interligados com ações sociais do governo.
Pará, palavra do tupi que significa “mar”. A ocupação humana no território do Estado do Pará começou há alguns milhares de anos, nas margens do Rio Amazonas e sua foz. Antes do descobrimento do Brasil, o Meridiano de Tordesilhas, estabelecido, em 1494, entre Portugal e Espanha, atravessava o território do Pará. Pelo Tratado de Tordesilhas, parte do atual Pará seria portuguesa e outra parte, espanhola. Somente no início do século 16 os primeiros europeus chegaram ao litoral do Pará. Segundo Jaboatão, Grão-Pará era o nome dado pelos portugueses ao rio chamado pelos índios de Paraná-Guaçu, que quer dizer “grande rio”, referindo-se ao Rio Amazonas. Posteriormente, o nome do Rio Grão-Pará foi dado à Capitania.
Pará que tem como capital, a cidade de Belém. Belém do Círio de Nazaré, manifestação religiosa, das maiores do mundo. Fundada em 12 de janeiro de 1616 pelo Capitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco, encarregado pela coroa portuguesa de conquistar, ocupar, explorar e proteger a foz do rio Amazonas contra os corsários holandeses e ingleses. Numa península habitada pelos índios Tupinambás, estrategicamente situada na margem direita da foz do rio Guamá, onde este rio deságua na baía do Guajará, foi erguido o Forte do Presépio, marco inicial da cidade. O Forte, em seguida, o colégio e a igreja dos Jesuítas formaram o núcleo original da cidade que, posteriormente, seria denominada de Santa Maria de Belém do Grão-Pará.
Pela abundância de mangueiras em suas ruas, é popularmente chamada de “Cidade das Mangueiras”. Denominada também de “Cidade Morena”, característica herdada da miscigenação do povo português com os índios Tupinambás, nativos habitantes da região à época da fundação.
Em seus quase 400 anos de história, Belém vivenciou momentos de plenitude, entre os quais o período áureo da borracha, quando o município recebeu inúmeras famílias europeias, o que veio a influenciar grandemente a arquitetura de suas edificações. Hoje, apesar de ser cosmopolita e moderna em vários aspectos, Belém não perdeu o ar tradicional das fachadas dos casarões, das igrejas e capelas do período colonial.
Belém que me foi mostrada em alguns pontos referenciais de sua história, embora em tempo curto que permaneci, pelo Grão-Mestre Honorário do GOB-Pará, Valdemar Chaves Coelho, cuja circulação foi encerrada no conhecido nacional e internacionalmente, “Mercado Ver o Peso”.
É um dos mercados públicos mais antigos do Brasil. Ponto turístico e cultural da cidade. Considerada a maior feira ao ar livre da América Latina. Abastece a cidade com variados tipos de gêneros alimentícios e ervas medicinais do interior paraense, fornecidos principalmente por via fluvial.
No século XVII, onde hoje funciona o mercado os portugueses instalaram um posto de fiscalização e tributos dos gêneros trazidos para a sede das capitanias, Belém. Este posto foi denominado “Casa de Haver o Peso”, que também tinha como atividade o controle do peso dos produtos comercializados. O complexo arquitetônico e paisagístico do Ver o Peso foi tombado pelo IPHAN, em 1977. Compreende uma área de 35 mil metros quadrados, com uma série de construções históricas.
O local ferve com o comércio de peixes amazônicos, cestos de açaí, ervas medicinais, artesanatos e artigos religiosos. Essa dinâmica pode ser apreciada por turistas a partir das duas da madrugada, quando os barcos começam a chegar e atraem centenas de clientes. Na multidão, há de tudo: pescadores, vendedores de peixes, donas de casa e cozinheiros de alguns dos melhores restaurantes da região de Belém. O clima de negociações é frenético. Camarões e peixes filhotes são comprados e limpos ali mesmo. Algumas mesas são montadas para limpar e cortar todo o material em filés. Não há muito tempo para conversa: clientes e pescadores são rápidos e objetivos e, como os barcos não param de chegar a noite toda, a concorrência entre os vendedores é alta.
Na área do Ver o Peso também é possível ver negociações envolvendo um dos mais emblemáticos produtos da região: o açaí. O fruto chega em enormes baldes de palha e logo se esgota. Os barcos vêm de várias regiões para vender as frutas em Belém. Muito desse açaí ainda segue viagem para outras regiões de caminhão e uma outra parte ainda será processada antes de seguir congelado para o sul e sudeste.
Ver o Peso é vida, é ser humano, é trabalhador, é sofrimento, é história, alma do povo paraense. No Ver o Peso, como o poeta Paulo Guedes, escreve em seu poema, “urubu em grande quantidade, se alimenta de peixes de alta qualidade”.
“Acaba a noite e começa a gritaria: – “olha o cheiro, cheiroooso”… Eu nunca vi tanta correria: – “tome açaí… É gostoooso”… Égua, arreda aí, isso é todo dia!
É tanto urubu acordando, abrindo as asas para o sol. É quanto peixe chegando, saindo da rede e do anzol. É urubu voando e gente e peixe chegando!
Começa a manhã e acaba o silêncio: – “diga meu freguês”… Todo mundo fala que nem no hospício: – “leve um, leve dois, leve três”… É cultura, é negócio, é um vício”!
Saudades de Ver o Peso, é o que sente todo paraense em terras distantes.
Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br