Artigo 305 do irmão Barbosa Nunes
Já na edição de 03 de junho de 2011, o programa Globo Repórter enfocava a solidão das pessoas na era das redes sociais, onde o ser humano nunca esteve mais conectado aos seus semelhantes em toda sua caminhada, através do mundo digital. Ao mesmo tempo que a internet abriu um mundo novo e revolucionou todas as formas conhecidas de relacionamento entre pessoas, comunidades e países, as pessoas nunca estiveram mais solitárias e nunca se registrou tantas ocorrências de doenças psíquicas como os diversos transtornos de ansiedade, comportamentos originários de carência afetiva.
Todos estamos conectados, linkados e interligados aos outros através das redes sociais, com a mesma finalidade, aproximar pessoas. Entretanto, nunca estivemos tão distantes da conexão entre as pessoas, seja afetiva ou socialmente. Preferimos passar mais tempo conectados através do computador, tablet, celular ou qualquer outro dispositivo móvel ou não, do que se encontrar fisicamente, para poder interagir no mundo real. Conforme dados obtidos na revista digital “Desacato”, da Cooperativa Desacato, no artigo “Sozinhos na multidão: A solidão na era das redes sociais”.
Há cerca de 30, 40 anos atrás, as comunicações eram difíceis e esperando por tempo longo, mas a solidão era menor, os relacionamentos faziam parte da rotina, as famílias se reuniam e os jovens se encontravam. Festas folclóricas, incentivo aos eventos cívicos, as praças públicas eram seguras e pontos animadores para aproximar adolescentes e corações, a droga menos presente e o tempo menos estressado.
Hoje a sociedade em que vivemos, pelas comunicações eletrônicas afasta mais do que aproxima as pessoas. O oposto social contemporâneo é convivermos o dia a dia com tanta gente e ao mesmo tempo sentirmos solitários. A solidão do poder, da riqueza, dos bem e mal casados, do trabalho apressado, da criança cujos pais são egoístas e sem afeto, a solidão dos velhinhos rejeitados com suas memórias e muitas vezes abandonados nos asilos onde se tornam esquecidos dos familiares. A solidão das crianças órfãs, a solidão dos enfermos hospitalizados, a solidão do desempregado, hoje no Brasil, superior a 12 milhões. A solidão do operário retirante que deixou a família para trabalhar na cidade grande.
O número de solitários está aumentando. São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, conforme cifras da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios, estão à frente com mais pessoas vivendo isoladas. Dados transcritos da “Revista Espaço Acadêmico”.
Quanto à solidão dos idosos, recordo-me de uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo, quando a jornalista perguntou a uma idosa hospedada em um instituição de alto nível, em conforto e assistência: “Qual é o maior mal que a senhora sofre?” Ela, bem cuidada, com olhar distante e semblante ausente, respondeu: “É o mal da solidão”.
Voltando então ao título deste artigo, inspirado no Globo Repórter, que abriu a reportagem chamando para a reflexão: “Por que o mundo virtual atrai jovens que se sentem sós? Psicólogo afirma que na web o adolescente garante o anonimato e afasta os receios. Só que a proteção também é virtual e pode levar a doenças e distúrbios emocionais”.
Registro seu inteiro teor.
“O aposentado Raimundo Figueiredo é sábio. A experiência de 86 anos de vida foi fundamental para ajudar a driblar os males da solidão. É preciso mesmo ser forte. Essa força que nem sempre aparece para milhares de jovens solitários. Diante da dificuldade de fazer amigos e se integrar a outros grupos, eles se escondem atrás de uma tela de computador e se viciam no anonimato.
“Eu comecei a perceber quando o chamava para almoçar, para comer, e ele falava ‘estou indo’. E este ‘estou indo’ ia longe”, conta uma mãe que não quis se identificar.
Para proteger o filho, ela se esconde, mas é corajosa na hora de nos contar essa história. “Ele já chegou a ficar até 15 horas. Quando ele parava, era uma parada muito rápida. Engolia tudo em poucas mordidas. Às vezes, eu chegava e brincava: ‘você não tem um aparelho digestivo, mas um escorredor de alimentos’”, lembra.
Entrar e não sair da internet era a válvula de escape de um menino ansioso, irritado e de temperamento explosivo. Na escola, ele se mantinha longe dos colegas e era sempre muito calado. Abandonou tudo o que fazia, até que a mãe pediu ajuda médica.
O adolescente foi atendido pelo psicólogo Cristiano Nabuco, que coordena o Grupo de Dependentes de Internet, do Hospital de Clínicas de São Paulo. Ele não tem dúvida: a solidão pode levar a compulsões, e hoje a internet está entre as mais perigosas. “Se torna uma doença, quando um indivíduo, efetivamente, não consegue mais se relacionar com as pessoas a sua volta, onde a realidade concreta se torna tão ameaçadora, que ele se refugia na internet. Nunca deixo de mencionar um paciente que atendi que chegava a ficar 35 horas conectado de maneira ininterrupta”, revela.
Mas o que tem de tão fascinante no mundo virtual? Por que ele anda atraindo tantos jovens que se sentem sós? “Você garante o seu anonimato e, dessa maneira, afasta muito seus receios, suas inseguranças e, principalmente, o seu medo de não ser aceito. É uma janela para o mundo onde você se sente completamente protegido”, afirma o psicólogo.
Só que a proteção também é virtual. E pior: pode levar a doenças, a sérios distúrbios emocionais. O filho dela precisou de acompanhamento médico e terapias durante 18 meses. O resultado foi melhor do que ela esperava. O filho já teve alta. “Ele passou a ter amigos, a participar de jogos. Chegou a ser goleiro em um time que eles formaram, entre amigos. No final do ano, parou de trabalhar e disse que ia se dedicar para o vestibular e passou em duas faculdades, revela a mãe do jovem”.
Concluo com a frase: “Somente a presença ativa de outro ser humano pode dar sentido ao vazio da solidão”.
Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br