Sempre procuro acreditar nas pessoas. É meu estilo de vida. Às vezes me decepciono? Sim. Mas não deixo de acreditar, por isto inicio este artigo 332, em 24 de junho, com o texto de Luis Fernando Veríssimo, intitulado, “Acredite”.
“Acredite nas pessoas… Naquelas que possuem algo mais… Aquelas que, às vezes, a gente confunde com anjos e outras divindades… Digo daquelas pessoas que existem em nossas vidas e enchem nosso espaço com pequenas alegrias e grandes atitudes… Falo daquelas que te olham nos olhos quando precisam ser verdadeiras, tecendo elogios, que pedem desculpas com a simplicidade de uma criança…
Pessoas firmes… Verdadeiras, transparentes, amigas, ingênuas… Que com um sorriso, um beijo, um abraço, uma palavra te faz feliz… Aquelas que erram… Acertam… Não tem vergonha de dizer não sei… aquelas que sonham… aquelas amigas… aquelas que passam pela vida deixando sua marca, saudades, aquelas que fazem a diferença… Aquelas que vivem intensamente um grande amor… desconhecido”
Luis Fernando Veríssimo é um escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão, autor de teatro, romancista com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. Filho do também escritor, Érico Veríssimo. Nasceu em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre.
Ficou conhecido pelas crônicas de humor publicadas em diversos jornais. A linguagem simples e inteligente é marcada em sua obra, que costuma utilizar a ironia para tratar de temas delicados.
Percebe-se na linguagem do escritor o uso de um tom coloquial e elegante. Luís Fernando coloca em suas crônicas personagens que representam a realidade brasileira, usando essas criações como forma de ironizar questões sociais e políticas. Dessa maneira, faz uma crítica velada e carregada de humor. São grandes sucessos do escritor: “Comédias da Vida Privada”, “Ed Mort e outras histórias” e “As Mentiras que os Homens Contam”.
Em 1981, o livro “O Analista de Bagé”, lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, esgotou sua primeira edição em dois dias, tornando-se fenômeno de vendas em todo o país. O personagem, é um psicanalista de formação freudiana ortodoxa, mas com o sotaque, o linguajar e os costumes típicos da fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai e a Argentina. Veríssimo consolidou-se como um fenômeno de popularidade raro entre escritores brasileiros, mantendo colunas semanais em vários jornais e lançando pelo menos um livro por ano, sempre nas listas dos mais vendidos, além de escrever para programas de humor. Consagrou-se como um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos, tendo vendido ao todo mais de 5 milhões de exemplares de seus livros.
Já antecipando férias escolares, temporadas no rio Araguaia e em praias, faço uma homenagem a Luis Fernando Veríssimo e procuro tornar a sua leitura muito leve, descontraída, para que estes tempos de violência, corrupção e outras muitas preocupações. Que aqui esteja presente a alegria e a graça de dois de seus escritos. No primeiro, um casamento que dura e o segundo, “Boletim Escolar”.
“Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar:
Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas. Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em São Paulo.
Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta. Perguntei a ela onde gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, “em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!” ela disse. Então, sugeri a cozinha.
Nós sempre andamos de mãos dadas… Se eu soltar, ela vai às compras! Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico. Então, ela disse: nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar”. Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento. Eu me casei com a “senhora certa”. Só não sabia que o primeiro nome dela era “sempre”. Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la. Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: “O que tem na TV?” E eu disse: “Poeira”.
O segundo.
“Uma garota tinha que entregar o boletim escolar dela para os seus pais e, as notas ali, não eram as notas do sonho de nenhuma mãe, muito menos de nenhum pai. Ela usou a criatividade para contar essa maravilhosa notícia.
Oi papai! Oi mamãe!
É com o coração partido, mas muito feliz da vida que eu digo para vocês que eu sai fora com o Dudu, ele é o homem da minha vida. Ele é tudo de bom.
Estou absolutamente fascinada com as suas tatuagens, com aquele cabelo moicano, com aqueles ferros e piercings que ele coloca naquele corpinho maravilhoso. Entretanto, tenho que lhes contar que não é só isso. O Douglas, aquele menino que vocês não gostam dele de jeito nenhum, está com a gente. Portanto não se preocupem comigo. Já tenho 15 anos e sei muito bem me virar sozinha tá.
Com amor e carinho da sua querida filhinha. Ah! Pai, mãe, isso é só uma brincadeirinha viu! Estou na casa da Mariana, só queria mostrar para vocês que há coisas bem piores na vida que estas notas que estão aí no boletim. Não se estressem Ok!. No ano que vem eu me recupero. Beijinhos!
Resposta dos pais: Querida filhinha, quando a sua mãe leu a sua carinhosa cartinha, ela passou muito mal e foi parar no pronto socorro. Imediatamente você foi retirada do nosso testamento e sua parte da herança será do seu irmão. Todas as coisas do seu quarto foram doadas para o pessoal do orfanato, cancelamos o seu celular e o seu cartão de crédito. Todos os seus Cd’s do NX0, do Justin Bieber, do Restart, do Cine, do Jonas Brothers, do Fiuk e do Luan Santana, nós doamos para a Karina do segundo andar, aquela mesma garota que você acha insuportável. Lembra, ela é aquela garota super legal que no ano passado roubou o Rafinha, aquele seu namorado gatinho que até hoje você não esquece. Pode ir arrumando um bom emprego porque dinheiro daqui de casa nem em sonho viu. Enfim, espero que você seja muito feliz na sua nova vida.
Nota! Filha querida, claro que tudo isso não passa de uma brincadeirinha da nossa parte. A sua mãe está aqui comigo assistindo Eu a Patroa e as Crianças e tudo está bem.
Só queríamos lhe mostrar que há coisa bem piores do que passar as próximas cinco semanas sem sair de casa, sem celular, sem Internet, sem vídeo game, sem televisão e, principalmente, sem ir à casa da Camila. Tudo isso por causa dessas notas ridículas e, dessa brincadeira idiota que você fez com a gente”.
Barbosa Nunes, advogado, ex–radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br