Artigo 341 do irmão Barbosa Nunes
Mais uma vez junto com os irmãos, cunhadas e sobrinhos, fui à Cidade de Goiás. Reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural Mundial por sua tradição e arquitetura barroca peculiar. Situa-se dentro de um cenário topográfico, singularmente bonito, dentro de um vale envolvido pelos morros verdes e ao sopé da lendária Serra Dourada. Local onde ocorre anualmente o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – FICA, que tem participação de países da Europa, América, África e Ásia. Nascida durante o Ciclo do Ouro, Vila Boa de Goiás foi capital do estado até 1937.
Repleta detalhes bem retratados pela filha mais ilustre, a poetisa Cora Coralina. A casa de Cora, é um dos cenários mais visitados. Lá estão seus vestidos, seus chinelos e seus tachos, do mesmo modo que ela deixou, ao morrer em 1985. Sua essência também está ali, através de seus livros, cartas, fotos e máquina de escrever.
Outra importante manifestação cultural do município é a Procissão do Fogaréu, que acontece na Semana Santa. As luzes das ruas são apagadas e, munidos de tochas, os farricocos – encapuzados que representam os soldados romanos – seguem da Igreja da Boa Morte até as escadarias da Igreja de São Francisco. A cerimônia simboliza a prisão de Cristo, é acompanhada pelo som de tambores e de um coral em latim.
Neste cenário ha 182 anos está presente a Ordem Maçônica, através da luta, perseverança e representatividade da Loja Maçônica “Azilo da Razão”, fundada em 21 de agosto de 1835, atualmente dirigida pelo jovem Venerável, Murillo de Oliveira Dantas.
Anualmente, por ocasião do seu aniversário, o Grande Oriente do Brasil – Goiás transfere sua direção, lá instalando os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Novamente neste ano com o Grão-Mestre Estadual Luis Carlos de Castro Coelho, presidente da Assembleia Legislativa Estadual, Gérson Alcântara de Melo, presidente do Tribunal Eleitoral, Rodrigo Rizzo Vasques e presidente do Tribunal de Justiça, Luis Gustavo Nicoli. No mesmo evento a presidente da Fraternidade Feminina Estadual, Janine Gomes de Gouveia Coelho, instalou a Fraternidade Feminina da Loja, que passou a ser conduzida pela cunhada Edvânia Dantas . Ao som de belas canções, apresentação teatral e simbolizando a culinária da cidade, os maçons e familiares, foram também servidos por bolo de arroz e ambrosia.
Registro aqui, na íntegra, o pronunciamento do maçom Edivar da Costa Muniz, narrando em síntese a grande e denodada história da Loja “Azilo da Razão”, da Cidade de Goiás.
“A história registra, que em Cuiabá, no Mato Grosso, havia uma Loja Maçônica, denominada Razão n° 4, com Carta Constitutiva de 23 de novembro de 1831, Loja atuante, que teve de abater suas colunas, em face de “Rusga de Cuiabá”, (Vila Bela x Cuiabá), o que gerou fortes perseguições aos maçons, que se viram obrigados a sair de Cuiabá, para preservarem suas vidas e de seus familiares. Vários foram os destinos daqueles valorosos irmãos, mas um grupo forte e coeso migrou para a província de Goiás, e aqui, reergueu a Loja Razão n° 4, só que desta feita, com o nome de Azilo da Razão, em 21 de agosto de 1835.
Esses maçons, após se instalarem na capital goiana, deliberaram pela criação de uma célula maçônica a fim de darem prosseguimento aos estudos da Arte Real, à qual deram o sugestivo nome de “Azylo da Razão” conforme já citado. A intenção de seus fundadores era de regularizar a Loja tão logo a conjuntura política o permitisse.
A Loja Razão é a n° 4 no Grande Oriente Nacional Brasileiro que depois se fundiu com o Grande Oriente do Brasil, onde, também recebeu o n° 4. Esta Loja Maçônica é a quarta loja fundada no Brasil e a primeira no Estado de Goiás e hoje detém o número 167, pelo simples fato de que seu registro somente se concretizou 30 anos após sua fundação, portanto seu número não deveria ser 167 e sim, número 4.
Em face do ambiente de instabilidade em que o país ainda se encontrava, aqueles precursores se valiam de pseudônimos nos documentos maçônicos, normalmente nomes de personagens da história universal.
Assim, a relação de fundadores descrita no jornal Polianthéa registra os seguintes nomes: Sêneca, como Venerável Mestre; Salomão, um aprendiz, como Primeiro Vigilante; Suly, como Segundo Vigilante; Confúcio, como Orador e Tesoureiro; Biom como Secretário; e Fenelon como Primeiro e Segundo Experto. De acordo com a ata de fundação, a Loja foi fundada no 1o dia do 6o mês do ano de 5835 da Verdadeira Luz (21 de agosto de 1835). Em 1861, o Grande Oriente do Brasil publicou pela primeira vez o Quadro de Lojas e nele a Loja “Razão”.
Não obstante a sua importância no contexto maçônico, a “Azylo da Razão” enfrentou enormes dificuldades, permaneceu algum tempo adormecida, mas nunca abateu colunas, conforme alguns autores citam. Ela apenas se manteve discreta as injúrias e perseguições da época, podendo até ter deixando de reunir no templo físico por algum tempo, mas sempre em funcionamento e com seus obreiros a labutar.
Me permitam abrir um parênteses, explicar melhor, muitos irmãos podem estar se perguntando, mas como assim, ” não se reuniam no templo físico”. Muito simples, meus irmãos, por templo não devemos entender por uma construção feita fisicamente, mas sim um edifício erguido de espiritualidade, onde habita o Grande Arquiteto do Universo. Esse templo é nosso corpo, nossa alma, nosso coração e nosso espírito. Então se assim nós nos reconhecermos como templo, essa será a chama da maçonaria que nunca se apaga, e sendo assim, tenho a mais absoluta certeza que a chama dos irmãos de Azilo da Razão sempre se mantiveram acesas e flamejantes.
A Loja Azilo da Razão funcionou em seu primórdios, nas salas e porões das residências de seus membros, depois em um casarão, tipo sobrado pelo centro da cidade, depois na sede da antiga Casa Legislativa Estadual, teve por ocasião de seu centenário (1935) a construção de um novo templo em propriedade particular de seu membro, próximo a Rua Hermogenes Coelho. Depois a Loja executou seus serviços em um casa na Rua Coronel Luis Guedes de Amorim próximo ao fórum e da Igreja Nossa do Rosário, com muita união e dedicação dos valorosos irmãos conseguiram continuar seus trabalhos e erguer templo onde hoje desenvolve sues trabalhos.
Comemoramos oficialmente 182 anos de existência, mas a egrégora emanada nesta Oficina, irradia energia de 185 anos. O histórico de Azilo da Razão é de luta, combatemos bons e grandes combates, mas talvez o mais marcante, foi abolir a escravidão na província de Goiás, antes mesmo da lei Áurea entrar vigor.
A título de informação, a maçonaria chegou em Goiás cinco anos antes de ser encontrada a famosa imagem do Divino Pai Eterno, que deu origem à nossa maior festa religiosa.
Com trabalho e muita dedicação Azilo da Razão se encarregou de expandir os laços maçônicos por todo o estado de Goiás. Prestando obediência ao Grande Oriente do Brasil, conforme já mencionado, contando com mais de um século de existência, ombreada com várias outras Lojas, nasce o sonho de se criar o nosso Grande Oriente Estadual. Como deferência e em reconhecimento ao histórico de trabalho e luta de Azilo da Razão, hoje repousa em lugar de destaque em seu Templo a primeira cadeira usada pelo primeiro Grão Mestre do Grande Oriente do Estado.
Hoje somos uma importante célula da Maçonaria Brasileira que já legou vários ilustres membros para o cenário maçônico nacional, sempre calcada nos ideais da Liberdade, Igualdade e Fraternidade e sobretudo, no trabalho incansável de seus obreiros. Agradecemos a todos as Lojas e irmãos que nos visitam nesta data festiva de comemoração de 182 anos da Maçonaria Goiana. Por fim agradecemos ao Grande Arquiteto DO Universo por nos proporcionar esse momento de confraternização e alegria em nossa Oficina. Parabéns Azilo da Razão! Parabéns a Maçonaria Goiana, Brasileira e Mundial. Sigamos sempre irmanados. Oriente de Goiás, 19 de agosto de 2017. Edivar Da Costa Muniz.
Barbosa Nunes, advogado, ex–radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br