Artigo 319 do irmão Barbosa Nunes
Falo hoje da “honestidade” reinante nas declarações dos homens públicos que nos representam nos mais altos e diversos níveis da administração brasileira, com exceções que vão se tornando cada vez menores. Estou cansado de ouvir a seguinte frase: “As contas da minha eleição foram aprovadas pela Justiça Eleitoral”. “O meu partido teve suas contas aprovadas”. “Estou sendo perseguido pelo Procurador Geral”. “Minhas contas e sigilo telefônico estão abertas”. “Tenho todo interesse em que as investigações sejam aprofundadas”.
Para vergonha daqueles, centenas na relação de Janot, tiveram que ouvir cabisbaixos a recente declaração de Paulo Maluf, que alheio à agonia dos colegas do Congresso exibiu pose de estadista dizendo: “Não só não estou na Lava Jato e na lista do Janot, como não estou no mensalão”. Veja a que ponto chegamos, em que toda cúpula está envolvida e muita coisa ainda surgirá. O senador Romero Jucá, também mostrando a sua desqualificação à Laja-jato, declara que estão, eles, em guerra e agora é luta sem trégua.
Faço reflexões, lendo o pensamento vivo de Fernando Pessoa, considerado ao lado de Luis de Camões, o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal. Ele que nasceu em Lisboa em junho de 1888 e morreu em novembro de 1935, na mesma cidade, escreveu sua última frase em uma cama de hospital: “Não sei o que o amanhã trará”.
Os “príncipes honestos”, título que dou a este artigo, estão combatendo com todas as forças a desconstrução da Operação Lava-jato, já muito preocupados com suas reeleições e tudo farão para consegui-las, pois assim manterão o condenado “foro privilegiado”. Dependendo do eleitor, eles voltarão, como lá foram colocados por este mesmo eleitor.
Registro então e transportando para o político brasileiro, parte do “Poema em Linha Reta”, de Fernando Pessoa: “Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…”
Mas vocês que levaram o nosso país a este momento tão sofrido de mais de 12 milhões de desempregados, deveriam fazer uma reflexão na sequência do poema: “Quem me dera ouvir de alguém a voz humana, que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos. Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”
“Príncipes honestos” de nosso país, entendam que vocês estão fracassados em um quadro político podre e carcomido pela ganância desenfreada e pela corrupção institucionalizada. Estão no poder, mas rejeitados em alto nível, buscando ainda o pretexto para a má obra implantada. Se a próxima geração for pior que esta, chegaremos ao pó.
Parece até que os integrantes da lista de Janot estão se inspirando inversamente na frase de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Suas almas são grandes, poderosas, monstruosas, pecadoras. Certamente, conforme suas justificativas perante a população brasileira, de que são “príncipes honestos”, eles podem formar uma outra frase. “Tudo valeu a pena, pois a nossa alma não é pequena”.
Lamentando que a nossa juventude pouco lê Fernando Pessoa e nós também de uma geração anterior, sugiro que de vez em quando nos voltemos para os escritos deste que foi um gênio da intelectualidade e concluindo este artigo com uma frase sua, que fala de caráter, que os “príncipes honestos” acham que têm.
“É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome não importa, nem qualquer outro pormenor exterior meu próprio. Devo falar de caráter”.
E caráter é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo. É um feitio moral. É a firmeza e coerência de atitudes.
O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é que vão determinar a sua conduta e a sua moralidade, o seu caráter. Os seus valores e firmeza moral definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e comportamento.
Uma pessoa conhecida como “sem caráter” ou “mau caráter”, geralmente é qualificada como desonesta, pois não apresenta firmeza de princípios ou de moral. Por outro lado, uma pessoa “de caráter” é alguém com formação moral sólida e incontestável.
O caráter quando é forte, não se deixa levar por alguma proposta de uma via mais fácil para a realização de algo. Mesmo se naquele momento parece ser o melhor caminho a seguir, é o caráter que vai determinar a escolha do indivíduo.
Estamos vivendo com falsos príncipes, como o personagem do filme Shrek, que é um “príncipe encantado”, porém de mau caráter.
Barbosa Nunes, advogado, ex–radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br