Estou chocado e perplexo com os fatos. Tenho a impressão de que não sobrará ninguém no mundo político e administrativo deste sofrido e querido Brasil. Não há como projetar para 24 horas. Nosso país que em pouco mais de 20 anos teve dois presidentes impedidos por impeachment e o terceiro, parece no mesmo caminho. Então me volto para o livro “Ética e Vergonha na Cara” de Mário Sérgio Coetella e Clóvis de Barros Filho, da Editora Papiros 7 Mares, em que Cortella afirma: “A corrupção é uma das formas mais agressivas de comportamento porque está no campo público e no campo privado, portanto, algo da esfera da vida”. Clóvis não concorda: “É muito comum ouvirmos coisas do tipo: “O problema é o sistema”, argumento que serve hoje como desculpa para tudo”.
“O indivíduo vai pagar uma conta no restaurante e lhe dizem: “Estamos com um problema de sistema”, ou vai ao aeroporto e dizem: “Deu erro de sistema”. Assim, o problema seria o sistema político que levaria a práticas costumeiramente chamadas de corruptas”.
Em interpretação a frente, diz que no último instante a possibilidade de dizer não sempre existe. Lamentavelmente estes homens, grande parte colocados em seus cargos por eleição. Votados e eleitos por aqueles que estão hoje e nos últimos anos em estado de perplexidade.
Então, meus caros amigos leitores de todos os sábados, nós vivemos em mundo em que os nossos representantes, não nos representam, representam os seus interesses pessoais e de grupos. Ao ler, ouvir de viva voz, diálogos que estão chegando agora ao presidente da República, vem a pergunta: Em que mundo estamos vivendo?
Um Brasil como diz Cortella: “Se é bom para mim, tudo bem”. É a ética da conveniência. Em que esses homens, envergonhando suas famílias, levando seus integrantes a serem processados, condenados e presos, a uma exposição perante a sociedade e ainda com aquela descarada afirmativa de convencer de que eles são santos e que no momentos dos atos de corrupção, estavam “rezando na igreja”. Culpados, a imprensa, os delatores, que corruptos são tanto quanto eles, mas estão preferindo a delação, dizem, premiada. Nos Estados Unidos o delator não tem privilégios como no Brasil. Ele passa a morar em prédio modesto oferecido pelo poder público e ainda, submetido a muitos impedimentos. No Brasil, eles continuam em seus palácios.
O que é delação premiada?
Delação premiada é uma expressão utilizada no âmbito jurídico, que significa uma espécie de “troca de favores” entre o juiz e o réu. Caso o acusado forneça informações importantes sobre outros criminosos de uma quadrilha ou dados que ajudem a solucionar um crime, o juiz poderá reduzir a pena do réu quando este for julgado. Veja bem a expressão, sobre outros criminosos de uma quadrilha. Isto é, os delatores, são criminosos da mesma forma e integrantes de quadrilhas.
Muitas pessoas consideram a delação premiada como se fosse um “prêmio” para o acusado que opta por delatar os comparsas e ajudar nas investigações da polícia. Veja bem a expressão. “Opta por delatar os comparsas”.
De acordo com a lei brasileira, o juiz pode reduzir a pena do delator entre 1/3 (um terço) e 2/3 (dois terços), caso as informações fornecidas realmente ajudem a solucionar o crime.
Mas é preciso reconhecer que se não fossem as delações destes criminosos, não seria possível a cirurgia que é feita neste tumor que de tão grande, apresenta todos os dias ramificações por toda administração brasileira.
A delação premiada está prevista por lei no Brasil desde 1999, através do decreto de lei nº 9.807 e no artigo 159 do Código Penal Brasileiro.
Dito isto, sugiro a leitura, que faço pela terceira vez, do livro “Ética e Vergonha na Cara”, em que os autores dizem: “Mãe é matriz da vida, fonte da vida, ela é a última pessoa que se quer envergonhar. Porque ética tem haver com vergonha na cara, com decência e a última pessoa que se quer envergonhar, é a mãe”.
Por exemplo: “Até bandido, assaltantes a mão armada e sequestradores dão prova disso. Já houve situações de assalto com reféns em que o sujeito, mesmo com a polícia toda em volta fazendo o cerco não se rende. Ai a polícia chama a mãe dele. Ela chega, com bolsinha no braço e diz: “Sai daí, menino!”, e ele sai! É por isso que Cortella considera a ideia da matriz do desavergonhar uma coisa extremamente inspiradora para que jamais venhamos adotar a que me referi como ética da conveniência.
Envergonharam suas mães, buscaram resultados materiais de riqueza e sucesso de tal forma que a ganância não tem fim, que a maneira de atingir um objetivo pela honestidade acaba sendo sucateada e colocada como uma questão menor.
Concluo registrando mais uma parágrafo do livro “Ética e Vergonha na Cara”.
“Tratando diretamente da temática da corrupção, o indivíduo se vê diante da possibilidade de um fantástico enriquecimento mediante um esforço mínimo. Com a possibilidade de ganho, ele imagina, num primeiro momento, que todos os efeitos encantadores desse ganho, que é esperança, ganho de potência de vida com vislumbre, porém com a possibilidade de ser pego, de cair em desgraça, de se ver em situação muito ruim. Ai se estabelece um duelo de afetos, como se fosse uma soma de vetores, de um lado a esperança de se dar bem e de outro, o medo de se dar mal”.
A publicação nos leva a uma reflexão importante sobre como orientamos nossas escolhas, mostrando de que forma a vergonha encontra seu lugar na ética, afim de que possamos pensar e agir para além do comodismo e dos prazeres individuais.
Envergonharam suas mães.
Barbosa Nunes, advogado, ex–radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br