Encontramo-nos muito sensibilizados, eu e minha companheira Vera Lúcia Brandão Barbosa, com os gestos fraternais dos maçons da Loja “Seis de Março de 1817”, número 0015, sediada em Recife, prestes a completar 200 anos, onde todos os movimentos revolucionários de Pernambuco emergiram na intimidade das sessões lá realizadas. Detalhes que descreverei em um dos próximos artigos. Esta sensibilidade me faz recluso, pensativo e com vontade de buscar no meu íntimo mais profundo, alguma coisa que transmita o que estou sentindo. Cheguei a acordes musicais e lindas vozes, que me fazem ouvir hinos de orações, tornando meu dia melhor, com a inspiração da música, sempre ligada aos momentos que compõem a existência, ora de muita alegria, entusiasmo, vitórias e tristezas.
São hinos, canções de amor, canções tristes, música de raiz, alegres, dançantes, orquestras sinfônicas, bandas, conjuntos, corais, musicas sacras e a beleza incomparável de um canto gregoriano. A arte musical nos inspira, traz paz, esquecendo a si mesmo. Dá ao corpo e a mente a oportunidade de aliviar e esquecer tensões, ansiedades e receber novas forças. Diria que “quem canta bem a sua aldeia, canta bem o seu mundo”.
Seres humanos que recebem o dom de Deus para irradiar suas belas e afinadas vozes como Maysa, Tim Maia, Clara Nunes, Elis Regina, Maria Betânia, Elizeth Cardoso, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira, Dolores Duran, Vicente Celestino, Alcione, Raul Seixas, Jair Rodrigues, Beth Carvalho, Gonzaguinha, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Fafá de Belém, Ângela Maria, Inezita Barroso, Martinho da Vila, Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Elba Ramalho e centenas de outros no Brasil e no mundo, são instrumentos que nos conduzem às mais diversas reflexões.
Mas entre eles, um aos 84 anos de idade, sem consumir bebida alcoólica, não fumar e ter um tom muito baixo em defesa de sua maravilhosa voz é Cauby Peixoto, nascido em Araruama em 1931. Ao colocar vida com sua voz aveludada na composição de Alberto Jones, Cauby Peixoto curvou-se a Deus e cantou, “Foi Deus”.
“Não sei, Não sabe ninguém, por que canto fado, neste tom magoado, de dor e de pranto. E neste tormento, todo sofrimento, que eu sinto na alma, cá dentro se acalma, nos versos que canto. Foi Deus, que deu luz aos olhos, perfumou as rosas, deu ouro ao sol, e prata ao luar.
Foi Deus, que me pôs no peito, um rosário de penas, que vou desfiando, e choro a cantar. Que pôs estrelas no céu, e fez o espaço sem fim, deu luto às andorinhas, Ai deu-me esta voz a mim. Se canto, Não sei o que canto, misto de ternura, saudade, ventura, e talvez de amor.
Mas sei que cantando, sinto o mesmo quando, se tem um desgosto, e o pranto no rosto, nos deixa melhor. Foi Deus, que deu voz ao vento, luz no firmamento, e pôs o azul nas ondas do mar.
Foi Deus, que me pôs no peito, um rosário de penas, que vou desfiando, e choro a cantar. Fez poeta o rouxinol, pôs no campo o alecrim, deu flores à primavera. Aí, deu esta voz a mim”.
Único, venceu o tempo. Ídolo aos 84 anos. Astro da canção, inigualável, intérprete sem igual, alimentando a alma de muitos que construíram seus amores e outros que se entristeceram ao perder suas oportunidades sentimentais. Assim é Cauby Peixoto, que presente se faz nos corações dos românticos desde a década de 40, influenciando vidas espirituais e interiores, com tranquilidade, vivacidade, vitalidade e todas as modificações que ocorrem no recôndito da alma, com a sua voz vindo para ajudar-nos a ser mais amigáveis e manifestar mais profunda compreensão, erguendo nossos pensamentos e despertando na alma, mesmo nas tristezas e insucessos , a gratidão para com Deus, como ele submisso muito bem canta dizendo: “Que pôs estrelas no céu, e fez o espaço sem fim, deu luto às andorinhas, ai deu-me esta voz a mim”.
Relembremos e ouçamos Cauby Peixoto em “Conceição”: “Conceição, eu me lembro muito bem, vivia no morro a sonhar, com coisas que o morro não tem”; “Luzes da Ribalta”: “Vidas que se acabam a sorrir, luzes que se apagam, nada mais, é sonhar em vão tentar aos outros iludir, se o que se foi, pra nós não voltará jamais”.
“Casinha pequenina”: “Tu não te lembras da casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu? Tu não te lembras da casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu? Tinha um coqueiro do lado, que coitado de saudade. Já morreu! Tinha um coqueiro do lado, que coitado de saudade, Já morreu!”.
Em “É tão sublime o amor”: “É tão sublime o amor, o amor que tem da meiga flor o perfume, a cor, uma estrada tão florida, razões da própria vida, o sonho mais feliz de um sonhador”. E em outras centenas como “New York, New York”, “Perfídia”, “Ninguém é de ninguém”, “Negue”, “Pensando em ti”, “All the way”, “El dia que me queiras”, “Como é grande o meu amor por você”, “Começaria tudo outra vez”, “Ave Maria no morro” uma oração com muita fé: “Tem alvorada, tem passarada, ao alvorecer, sinfonia de pardais, anunciando o anoitecer, e o morro inteiro no fim do dia, reza uma prece Ave Maria,
Ave Maria…”.
Onde se esconde o poder das canções? Por que a gente é transportado para outras paragens ao ouvir belas vozes, orquestras, pianos, modas de viola? Talvez seja pelo fato de que neste mundo inseguro, violento, imoral e corrupto, as boas canções com belas mensagens não são muito lembradas. Uma estranheza de existir tanto no mundo. São intervalos mágicos e distâncias, ao alcance do ouvido humano que construímos, talvez com o ensinamento dos pássaros.
A música nos transforma, nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, como deveriam ser os nossos “eus”, como afirma Salman Rushdie, no livro “O chão que ela pisa”.
A você minha amiga e meu amigo, agradeço por ter Deus te colocado em meu caminho todos os sábados aqui no Opinião Pública do Jornal Diário da Manhã.