Como grande meta de Gestão do Soberano Irmão Múcio Bonifácio Guimarães, o engrandecimento Cultural dos irmãos Gobianos é prioritário na gestão, e seguindo recomendações do Grão-Mestre Geral, o Secretário Geral de Educação e Cultura, Eminente Irmão Leonardo Augusto Reis, esteve recentemente em visita a Grande Loja do Chile, e alinhou um belíssimo trabalho de intercâmbio cultural entre o GOB e a GL do Chile. Já colhendo frutos desta reunião de alinhamento, a Grande Loja do Chile solicitou ao Grande Oriente do Brasil, um artigo sobre a Maçonaria na independência do Brasil para sua revista oficial. "Acreditamos que os membros da revista pensaram que este artigo, seria elaborado por membros do próprio Grande Oriente. Porém, há alguns meses, o Grande Oriente vem trabalhando em conjunto com alguns historiadores brasileiros na abertura de nossos arquivos para a pesquisa acadêmica, de modo a ajudar a historiografia brasileira a contar o papel desempenhado pela maçonaria na história do Brasil, principalmente no século XIX", disse o Eminente Irmão Leonardo Augusto Reis, Secretário Geral de Educação e Cultura.
Este artigo que apresentamos foi escrito por uma dessas pesquisadoras. Pilar Ferrer Gomez é bacharela e licenciada em História pela Universidade de São Paulo e atualmente mestranda, sob orientação da Professora Doutora Monica Duarte Dantas, no Programa de História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
"Um Oriente para o Brasil: o papel da maçonaria na construção da Independência do Brasil"
A história da maçonaria no Brasil confunde-se, em muitos momentos, com a história da emancipação política do Brasil independente, em seus processos que levaram não apenas à independência do país frente a Portugal, mas também à própria construção do Brasil como Estado nacional. Esta inter-relação se deu não apenas por muitos dos principais personagens da época terem sido iniciados na maçonaria, mas por terem feito da ordem maçônica um local para a articulação desses processos. Dentre os muitos episódios em que a maçonaria brasileira foi significativa para a história do Brasil, poucos são mais emblemáticos que o próprio processo de Independência, quando os maçons brasileiros não apenas lideraram vários dos processos que decorreram da emancipação política do país, mas principalmente pelo protagonismo que a maçonaria exerceu em todo o percurso das lutas pela independência.
Para compreender a ligação da maçonaria brasileira e a independência do país, é preciso antes entender o espaço central ocupado pela loja Comércio e Artes e, principalmente, o Grande Oriente Brasílico
A Comércio e Artes é a mais antiga loja em atividade do Brasil. Fundada em 1815, adormecida por um breve intervalo de anos, entre 1818 e 1820, quando da intensa repressão às atividades maçônicas no Brasil, a Comércio retomou seus trabalhos ao final de 1820, ano da Revolução do Porto, que suspendeu as leis de perseguição às chamadas Sociedades Secretas, permitindo a retomada das ações da maçonaria luso-brasileira de forma pública (ver AZEVEDO, 2010).
Após a retomada das atividades, à medida em que o quadro de membros da Comércio e Artes se ampliava, também se complexificava o cenário político decorrente da Revolução do Porto e da instalação, em 1821, das Cortes Gerais Constituinte de Lisboa. Nesse cenário, a própria Comércio e Artes já pautava parte das lutas, como na liderança de José Clemente Pereira, e de outros membros da loja, no recolhimento das assinaturas do abaixo-assinado que resultou na decisão de d. Pedro em permanecer no Brasil, após o retorno de seu pai, d. João VI, a Portugal, desafiando as ordens das Cortes de Lisboa que requeriam também a volta do príncipe.
Até então, não havia se estabelecido no Brasil uma potência maçônica própria. Os membros da Comércio se viram, então, na premência de dividir seus quadros em três lojas, com vistas a fundar o Grande Oriente Brasílico, que deveria congregar todos os maçons do Brasil, articulando as aspirações dos irmãos por uma Constituição aceita a realidade do Brasil.
As três lojas que se originaram da divisão da Comércio e Artes, receberam então os nomes de Comércio e Artes da Idade do Ouro (nº1), União e Tranquilidade (nº2) e Esperança de Niterói (nº3), cada uma delas contando com o mesmo número de irmãos em seu início, definidos por sorteio entre os membros da Comércio original. Ao mesmo tempo em que foram divididos os membros entre as novas lojas, procedeu-se à eleição dos quadros de liderança do novo Grande Oriente, sendo escolhidos para Grão-Mestre e Primeiro Vigilante, respectivamente José Bonifácio de Andrada e Silva e Joaquim Gonçalves Ledo.
Embora eleito Grão-Mestre, José Bonifácio pouco participou das atividades do Grande Oriente pelas “exigências do ministério” que ocupava junto ao governo do então Príncipe Regente. Na ausência de José Bonifácio, as sessões do Grande Oriente Brasílico foram majoritariamente presididas por Gonçalves Ledo, cuja liderança foi significativa para os rumos tomados pela maçonaria brasileira na luta pela independência do Brasil (ver MENEZES, 1857).
Contando com a liderança de Gonçalves Ledo, a maçonaria brasileira engajou-se mais diretamente nos debates sobre a separação ou não do Brasil perante Portugal. Mas não só, frente à decisão dos irmãos de defender a emancipação definitiva, o Grande Oriente passou a centralizar em suas reuniões grande parte das discussões sobre medidas e estratégias a serem adotadas com vistas a encaminhar a independência, dado que muitos de seus membros se tornaram líderes e figuras centrais deste processo. Ademais, vale destacar não só a centralidade das lojas e da potência para a articulação dos atores políticos da Independência, mas também sua constituição como espaço público, por excelência, para o encaminhamento dos debates, decisões e defesa do caminho da emancipação política (BARATA, 2006).
Decorre, então, da própria atuação dos membros do Grande Oriente, e sua liderança em várias das conjunturas políticas do período, o convite a d. Pedro para ser iniciado na maçonaria, justamente em agosto de 1822, durante o auge do processo que culminou na independência; tornando ainda mais importantes os laços da ordem com o projeto de emancipação do Brasil.
Ainda que já iniciado maçom em agosto de 1822, junto à Loja Comércio e Artes da Idade do Ouro, recebendo rapidamente os diversos graus maçônicos, o reconhecimento definitivo da importância da maçonaria no processo de Independência do Brasil, e da ligação do príncipe com a fraternidade, tornou-se ainda mais evidente em 7 de outubro de 1822, quando d. Pedro foi eleito Grão-Mestre Geral da maçonaria, na mesma sessão em que foi aclamado pelos irmãos como Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil. A aclamação, proposta pelo brigadeiro Domingos Alves Branco Moniz Barreto, antecedeu sua aclamação pública, que viria a ocorrer alguns dias depois. Finalmente, em 12 de outubro de 1822, ele seria coroado a mesma aclamação (MENEZES, 1857, p. 53).
A maçonaria brasileira deve ser então compreendida como lócus fundamental para o encontro e sociabilização dos agentes envolvidos no processo de emancipação políticas, configurando-se em espaço central para a articulação das lideranças brasileiras, tanto no tangente à elaboração de discursos, ao encaminhamento de estratégias políticas, bem como na congregação de apoio para a construção de um país independente. As ações de seus membros, principalmente por meio da atuação de homens como Joaquim Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira, Januário da Cunha Barbosa, José Bonifácio de Andrada e Silva e do próprio dom Pedro I resultaram não apenas na proclamação da Independência do Brasil, mas foram também centrais nos processo políticos que lhe seguiram, ainda que nem sempre os rumos tomados tenham sido unânimes entre os irmãos.
Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Célia Maria Marinho. Maçonaria, Anti-racismo e Cidadania. Uma história de Luzes e debates transnacionais. São Paulo: Annablume, 2010.
BARATA, Alexandre Mansur. “Discutindo a sociabilidade moderna: o caso da maçonaria”, in: RAGO, Margareth e GIMENES, Renato Aloizio de Oliveira (orgs.). Narrar o passado, repensara História.Campinas: Ed. UNICAMP, 2000.
BARATA, Alexandre. Maçonaria, sociabilidade Ilustrada e Independência (Brasil, 1790- 1822). São Paulo: Annablume, 2006.
COLUSSI, Eliane Lucia. A Maçonaria Gaúcha no século XIX. Passo Fundo: EDIUPF, 1998.
MENEZES, Manoel Joaquim de. Exposição histórica da maçonaria no Brasil particularmente na província do Rio de Janeiro em relação com a Independência e a integridade do Império. Rio de Janeiro: Empreza Nacional do Diário, 1857.
MOREL, Marco & SOUZA, Françoise de Oliveira. O Poder da Maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
MOREL, Marco, “Sociabilidades entre Luzes e Sombras: Apontamentos para o Estudo Histórico das Maçonarias da Primeira Metade do Século XIX”. Estudos Históricos, n.28, Rio de Janeiro, 2001/2.
SANTOS, Célia Galvão Quirino dos. “As sociedades secretas e a formação do pensamento liberal”. Anais do Museu Paulista. São Paulo, 1965.
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