Em 23 de agosto do ano em curso, tive a honra de me fazer presente nas comemorações dos 120 anos da Loja Maçônica “Luz e Caridade”, de Uberlândia, em sessão com cerca de 200 irmãos presentes, conduzida pelo Venerável Mestre Jorge Luiz.
De há muito, acompanho e leio livros e artigos do maçom Antônio Pereira da Silva, iniciado em 1964, possuidor de intensa atividade maçônica. Autor de diversos livros, entre eles, a mim presenteados com sua gentil dedicatória, “As histórias de Uberlândia – Volumes 3 e 4”, “História do Carnaval de Uberlândia” e “História da Maçonaria no Triângulo Mineiro – A fixação da Maçonaria em Minas Gerais”, que dá título ao artigo deste sábado.
Usando o prefácio de Celso Machado, em uma das obras de Antônio Pereira, transcrevo: “Tem pessoas que são um verdadeiro achado. Antônio Pereira da Silva é uma delas. Compenetrado em tudo que faz, sempre disponível para atender um pedido. Antônio Pereira da Silva realiza um trabalho notável na identificação de nossas origens, de nossos hábitos, das razões que nos levam a ter esse jeito uberlndense de ser. É um historiador que vai fundo nos detalhes, nas informações, nos registros e resgatando a história em sua pesquisa”.
Como membro do Grande Oriente do Brasil, por merecimento foi alvo de todas as homenagens possíveis, inclusive sendo detentor da Ordem do Mérito D Pedro I. Fundou e integra o Grupo de Serestas Luz e Caridade, que se apresentou magistralmente na sessão de aniversário.
No livro que estamos enfocando afirma: “Provadamente a Maçonaria Mineira fixou-se no estado de Minas Gerais a partir de 1859, com a fundação da Loja “Amparo da Virtude”, em Uberaba. A cidade e a região são raízes da Ordem em Minas Gerais. Após Uberaba, cidade do Prata, com a “União e Caridade”, Araguari com “União, Força e Justiça”, Monte Alegre com “Estrela Montealegrense”, Uberlândia com “Luz e Caridade”, Ituiutaba com “Ciência e Trabalho” e Frutal com “Amor e Beneficência”, marcos originais da maçonaria no Triângulo Mineiro e por extensão, no estado de Minas Gerais.
A primeira Loja a se instalar em Minas Gerais foi “Mineiros Reunidos”, em Vila Rica, em 1822. Seu fundador foi Guido Tomaz Marlière, um oficial do exército português. Foi homem importante. Diretor-Geral dos Índios da Província das Minas Gerais, rodou pelo leste da província protegendo indígenas e combatendo o contrabando e as emboscadas. Em razão de sua atuação movimentada na área, foi responsável pelo surgimento de povoados que se transformaram em cidades, como Guidoval, Visconde do Rio Branco, Guiricema, Cataguases, São Geraldo, Muriaé, Miraí, Astolfo Dutra, Conselheiro Pena, Governador Valadares, Pocrane, Tarumirim, Resplendor, São Domingos do Prata, Mesquita, Marliéria, Jaguaruçu, Jequitinhonha, Abre Campo e outras. Duas homenageando o fundador com seus nomes: Guidoval e Marliéria.
Em Belo Horizonte, existem duas Lojas Maçônicas com seu nome, uma do Grande Oriente do Brasil, outra da Grande Loja de Minas Gerais. Essa primeira Loja, recebeu a visita do príncipe D. Pedro, pouco antes da Independência. Depois, não demorou nada, desapareceu do mapa sem deixar rastros. Como se não tivesse existido.
Só em 1859, 37 anos depois, fundou-se outra loja na província, em Uberaba. Chamou-se “Amparo da Virtude”. Foi Loja ativa no estímulo aos jovens a se alistarem para a Guerra do Paraguai e na luta pela abolição da escravatura. Andou adormecida entre 1870 e 1872, quando retornou às atividades. Conta-se que impediu a execução do enforcamento de um condenado, convencendo os comerciantes da cidade e os fazendeiros a não venderem o material necessário para a construção do patíbulo. Seus remanescentes, filiados a outras Lojas uberabenses surgidas depois, conseguiram concluir a grande obra de frei Eugênio, a Santa Casa de Misericórdia, emperrada por interesses escusos. A revolta dos fazendeiros prejudicados com a Abolição e a perseguição religiosa, com ameaças anônimas o incêndio do Templo etc. levou a tal ponto o desconforto dos maçons que eles escondiam da própria família esta sua condição. Por isso, a Loja foi encerrada em 1890. Nesses anos, entre 1859 e 1890, seus membros espalharam a maçonaria pelo Triângulo fundando várias Lojas e fixando a Ordem no território da província.
Participaram da fundação das Lojas “União e Caridade”, do Prata, em 1882; “União, Força e Justiça”, de Araguari, em 1895; “Estrela Montealegrense”, em 1896; “União Fraternal”, de Uberaba, em 1896; “Luz e Caridade”, de Uberlândia, em 1896; “Philantropia e Trabalho” de Araguari, em 1897; “Ciência e Trabalho”, de Ituiutaba, em 1897; “Pátria Universal”, de Uberaba, em 1898; “Amor e Progresso”, de Araguari, em 1906; “Estrela Uberabense”, em 1917, e possivelmente “Amor e Beneficência”, de Frutal, em 1897.
Os maçons da Loja “Luz e Caridade”, de Uberlândia, se desdobraram participando de fundação de dezenas de Lojas no Triângulo Mineiro, no Alto Paranaíba, zona de Paracatu, sudoeste goiano e até Mato Grosso.
Homenageio o intelectual historiador, com muita sensibilidade para música, inclusive compondo hinos, maçom com uma história marcante e acima de tudo, um ser humano compenetrado em tudo que faz, sempre disponível, gentil atencioso, solidário, interessado, observador e profundamente comunicativo.
Falo muito pouco da grandiosa e abrangente obra de historiador Antônio Pereira da Silva, mas para um extensão maior de conhecimento, indico o livro “História da Maçonaria no Triângulo Mineiro – A fixação da Maçonaria em Minas Gerais”, que pode ser adquirido pelo telefone (34) 3216 6835.
Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br