Este artigo é uma louvação à mulher brasileira, cantando como Benito Di Paula: “Agora chegou a vez, vou cantar, mulher brasileira em primeiro lugar. Norte a sul do meu Brasil, mulher de verdade, sim, senhor! Mulher brasileira é feita de amor”.
Na canção “Ai que saudades da Amélia”, composta por Ataulfo Alves e Mário Lago, encontramos o homem dominador, que sempre fez da mulher um instrumento a ele submisso, inclusive, no mundo de hoje, violentando-a no seu direito de viver. Encontramos também o homem diante de uma mulher que lhe faz exigência e na música, ele reclama:
“Nunca vi fazer tanta exigência, nem fazer o que você me faz, você não sabe o que é consciência, nem vê que eu sou um pobre rapaz. Você só pensa em luxo e riqueza, tudo que você vê, você quer”.
Então volta-se para a mulher, mulher de verdade na sua avaliação, aquela que o serve sem reclamar: “Ai, meu Deus, que saudade da Amélia, aquilo sim é que era mulher. Às vezes passava fome ao meu lado, e achava bonito não ter o que comer, e quando me via contrariado dizia: “Meu filho, que se há de fazer”. Amélia não tinha a menor vaidade, Amélia é que era mulher de verdade”.
A cantora Pitty e Martin Mendonça compuseram esta letra e ela canta, “Desconstruindo Amélia”, trazendo para a discussão os novos valores que a palavra vem ganhando, com a mulher se posicionando cada vez mais como sujeito de sua identidade, agregando funções que a colocam numa posição contrária à da “Amélia”, de Mário Lago e Ataulfo Alves.
Nesta canção é a mulher assumindo funções que antes eram vistas apenas como funções masculinas, com a mulher se colocando como atuante no seio da família e da sociedade. Vamos então, à letra de “Desconstruindo Amélia”.
“Já é tarde, tudo está certo, cada coisa posta em seu lugar. Filho dorme, ela arruma o uniforme, tudo pronto pra quando despertar. O ensejo a fez tão prendada, ela foi educada pra cuidar e servir. De costume, esquecia-se dela, sempre a última a sair.
Disfarça e segue em frente, todo dia até cansar. E eis que de repente ela resolve então mudar, vira a mesa, assume o jogo, faz questão de se cuidar, nem serva, nem objeto, já não quer ser o outro, hoje ela é um também.
A despeito de tanto mestrado, ganha menos que o namorado e não entende porque. Tem talento de equilibrista, ela é muito, se você quer saber. Hoje aos 30 é melhor que aos 18, nem Balzac poderia prever. Depois do lar, do trabalho e dos filhos ainda vai pra night ferver.
Disfarça e segue em frente, todo dia até cansar. E eis que de repente ela resolve então mudar, vira a mesa, assume o jogo, faz questão de se cuidar, nem serva, nem objeto, já não quer ser o outro, hoje ela é um também”.
Egberto Guillermo Lima Vital, da Universidade Estadual da Paraíba, em “De Amélia para Amélia: Um diálogo entre duas gerações”, enfatiza: “Nessa apreciação, refletimos sobre como essa mulher conquistou a autonomia na esfera familiar e transgrediu o status ao assumir uma posição atuante no seio de uma sociedade preconceituosa que entende a mulher como indivíduo sujeito ao homem”.
Conclui o seu trabalho afirmando: “A canção de Pitty e Martin sugere uma nova configuração da “Amélia”, essa mulher que se preocupa com seus afazeres domésticos, mas não deixa de se colocar enquanto sujeito de suas escolhas. A “Amélia” contemporânea precisa agregar às atividades domésticas, tempo para cuidar de si, do corpo e de sua mente, se colocando em um novo contexto sócio-histórico, que trazem à tona outras vozes para congregar novos discursos. É de se perceber que antes a mulher era explicada pelo homem, agora é a própria mulher que se desembrulha, se explica e hoje pode se colocar enquanto Sujeito Mulher”.
Martha Medeiros na crônica “O Mulherão”, afirma que um homem descreve um mulherão pela beleza, pela altura, por corpo malhado, destas que estão a nos trazer pela televisão, novelas, filmes, a mulher da fantasia, a mulher privilegiada. Usando Martha Medeiros homenageio todas as mulheres brasileiras, lutadoras, sofridas, em todos os lugares, respondendo a pergunta: O que é um mulherão?
“Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome. Mulherão é aquela que acorda de madrugada para pegar a senha da matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão merreca.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento. Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.
Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos pra natação, busca os filhos na natação, leva os filhos pra cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz. Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.
Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expediente de oito horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio pra azia. Mulherão é quem mata um leão por dia”.
Minha homenagem a Mulher Brasileira, de norte a sul do meu Brasil, mulher de verdade sim senhor”.
Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br