Artigo 214 do Sapientíssimo irmão Barbosa Nunes publicado no Diário da Manhã de Goiás em 21 de março
Recentemente, no dia 14 de março, em noite que antecedeu a caminhada do povo brasileiro, que em milhões foram às ruas, estive presente em exercício do cargo de Grão-Mestre Geral do GOB, em uma sessão histórica e comemorativa dos 50 anos da Loja “Aurora de Brasília”, presidida por Dionísio Leone Lamera, que desde o seu primeiro Venerável em 1965, maçom José de Melo, é uma célula composta de quadros comprometidos com princípios maçônicos e sociais.
Ao cumprimentar os 700 presentes no Palácio Jair Assis Ribeiro, disse que no dia seguinte, 15 de março, as autoridades que governam este país iriam ouvir a voz do povo, na certeza de que o país precisa, passando por longas noites tenebrosas de corrupção, de uma aurora. Aurora significa “amanhecer”. É um termo oriundo do Latim. Aurora é uma claridade visível no céu antes do nascer do sol e que indica o começo do dia. Se os governantes não compreenderem o momento em que vivemos, esta aurora, indispensável, virá pela vontade do povo.
Continuando minha reflexão, mais me reforço com a consciência política, equilibrada de um expoente da justiça brasileira em seu mais alto cargo, encontrando o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres de Brito, na entrevista concedida ao “Estadão”. Nela, faz afirmações que devem ser norte para os nossos políticos e administradores que estão conduzindo o país para a chamada “tempestade perfeita”. Crise política, inflação subindo, insatisfação generalizada, rejeição ao governo em todas as classes, já atingindo 62%, em caminho para chegar a ingovernabilidade.
“Ato de cidadania, e que deve ser saudado com foguetório, e oportunidade do Brasil se passar a limpo”, diz Ayres de Brito, acrescentando “Vamos virar essa página da indecência, de corrupção, de assalto. Oportunidade do país se depurar nos costumes”.
Em outro trecho, “Gosto dos momentos significativos de cidadania ativada, com cidadão participando da vida do seu país em plano de interesses gerais. Cidadania é o segundo fundamento dos princípios fundamentais da República, o primeiro é a soberania popular. Cidadania é a qualidade do cidadão por tudo que é de todos, que tem espírito público. Ele é ativo, dinâmico, orgânico, militante, engajado e participativo das coisas”.
A sociedade brasileira está madura, entende hoje a verdadeira soberania popular. Com muita consciência, segurança, e não se deixando contaminar pelos oportunismos de políticos de todos os partidos sem exceção, não permitiu nenhuma presença ou voz deles que pudessem assumir a caminhada cívica. Pois, seus comportamentos, na grande maioria, com exceções pequenas mas que dignificam a prática política, embora ficando manchados por aqueles que se envolvem na desonestidade, gerando corrupção, irrigada por empreiteiros, caso da Petrobrás. Empreiteiros que antecipam recursos no financiamento das campanhas, recursos que voltam multiplicados muitas vezes, como parte do vergonhoso oficializado 3% (três por cento) dos contratos ilícitos e superfaturados, que foram para as campanhas políticas. A operação Lava-Jato está mostrando e intranquilizando muita gente, pois a perspectiva é que a cada delação premiada, novos nomes surgirão. O povo brasileiro falou e continuará, não há mais retorno. Se a voz da população não for ouvida para mudar, corremos sério risco da “tempestade perfeita”, cujas nuvens estão visíveis e carregadas.
Mas quando eu vejo o presidente da Câmara Federal, defendendo o financiamento privado para campanha política, que não é nada mais que doações, hoje conhecidas como propinas, isto nos traz a visão de que a mudança será difícil.
O maçom Marlon Reis, considerado pai do “Ficha Limpa”, é um incansável lutador pela Reforma Política, que tem o apoio do Grande Oriente do Brasil, em bandeira portada pelo Grão-Mestre Geral do GOB, Marcos José da Silva. Marlon Reis afirma que “Os maiores doadores nas campanhas políticas são empresas que mantém contratos com o poder público. Isso coloca a situação da doação sob suspeita. O próprio contrato já nasce levando-se em conta a condição de que parte do dinheiro que é público volta para a campanha”.
Sem Reforma Política a situação se tornará mais grave. Mas a Reforma Política não pode ser feita por aqueles que foram maestros da corrupção e levaram o país à esta situação. Em expressão popular é colocar “a raposa para vigiar o galinheiro”. Doação é fruto delicioso para candidatos, que apressadamente lançam mãos desse fruto podre, fruto da corrupção, e que hoje estão levando muitos às grades e a processos.
Recebi de um maçom, este poema de Cleide Canton, com inserção do maçom Rui Barbosa escrita em 1914. Mais do que atual, retrata com emoção, especialmente quando é declamado por Rolando Boldrin, podendo ser visto no youtube.
SINTO VERGONHA DE MIM por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal “felicidade” em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre “contestar”, voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim, pois, faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer” Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois, amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem- se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.