Restauração revela pinturas antigas no Palácio Maçônico
Casarão construído para ser teatro guarda desenhos de mais de 180 anos
Por Simone Candida
RIO – Restauradores que trabalhavam na recuperação de salas do Palácio Maçônico, um prédio do século XIX, encontraram debaixo de várias camadas de tinta desenhos e pinturas que vão ajudar a contar a história do edifício, localizado na Rua do Lavradio, no Centro do Rio. O endereço abriga uma das primeiras sedes maçônicas no país e foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) em 1972 por causa da importância histórica da maçonaria na vida política brasileira do período imperial.
Durante a realização de prospecções estratigráficas – processo de restauração que consiste em investigar as camadas arquitetônicas de uma edificação -, as equipes acharam delicadas decorações, algumas com pinturas a têmpera, nos forros, paredes e colunas do salão que abriga o templo nobre. Em uma dessas colunas, que já foi “descascada” e restaurada, havia uma pintura em estilo art déco, que, acreditam os pesquisadores, foi feita na época em que o prédio ainda era um teatro em construção, há mais de 180 anos.
Também foram achados desenhos embaixo da escada de madeira do templo. Nas prospecções arquitetônicas feitas nas paredes da biblioteca, conta um relatório do Inepac, foi revelada “uma diversidade de técnicas construtivas que vão desde paredes em pedra até aquelas feitas com pau a pique, que, curiosamente, utilizam madeiras largas (tábuas) assentadas na diagonal e entaipadas com argamassas à base de cal.” Todo o material foi fotografado e será analisado por pesquisados do Inepac.
MUDANÇAS EM 1840
A história do casarão remonta ao início do século XIX, quando o artista português Vitor Porfirio Borja começou a construir no local um teatro, que abriria as portas para competir com o Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes. Por falta de dinheiro, ele não conseguiu concluir o projeto, e o prédio acabou sendo vendido.
Na década de 1840, várias lojas maçônicas fluminenses se juntaram e resolveram formar a Companhia Glória do Lavradio para financiar a compra do imóvel, que acabou sofrendo adaptações para abrigar os templos da sociedade. Na fachada do prédio, em estilo neoclássico, há símbolos da maçonaria. Dentro, fica um museu maçônico, com quadros e esculturas.
OBRA DEIXARÁ REGISTRO
Apenas uma das 12 colunas do salão do palácio será restaurada e ficará exposta, para que os frequentadores admirem os desenhos. As outras serão pintadas.
É um procedimento natural quando não há recursos financeiros para fazer a recuperação de todo o bem: deixar janelas de prospecção. Fica ali um registro para, quando existir dinheiro, o trabalho ser retomado – diz Denise Mendes, diretora do Departamento do Patrimônio Cultural e Natural (DPCN) do Inepac.
A obra, iniciada em 2015, vem sendo custeada pela Maçonaria e executada pela empresa Jequitibá Restauro. Segundo o Inepac, apesar de o prédio necessitar de muitos reparos, como o conserto do telhado, por falta de recursos a Maçonaria só vai restaurar este ano a biblioteca e a sala principal.