Sou admirador e entrego totalmente a minha atenção quando ouço bons oradores. Eles alteram minhas emoções, trazendo-me informações seguras e transmitidas em perfeitas interpretações teatrais de textos, muitos construídos pela inteligência, sabedoria e raciocínio rápido de quem ocupa uma tribuna. Grandes oradores foram Demóstenes, Cícero, Padre António Vieira, Rui Barbosa, Carlos Lacerda, Ulysses Guimarães, Alfredo Nasser, Henrique Santillo, Pedro Simon, Mário Covas, Jerônimo Geraldo de Queiroz, entre dezenas de outros.
Na atualidade encanto-me com o orador espírita Divaldo Franco. Frente a milhares de pessoas, sem um apontamento sequer, roda o mundo, faz com que as palavras voem serenamente, transmitindo e irradiando muita paz. Segurança, capacidade, mais que isto, um instrumento espiritual em favor do bem.
Com este introito, chego a um dos maiores oradores dos últimos tempos no Brasil. Ulysses Guimarães, figura referencial no processo de democratização do país, que desapareceu nas águas de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1992, Dia da Padroeira do Brasil. Nasceu em Rio Claro, São Paulo. Em acidente de helicóptero faleceram sua esposa Mora, o ex-ministro Severo Gomes, esposa e o piloto. O corpo de Ulysses, nunca foi encontrado. Ele não morreu, desapareceu e se encantou.
Político destemido, corajoso, dotado de uma capacidade de prender a atenção em seus pronunciamentos, inigualável. Construía frases de momento como esta, “Eu não quero morrer de raiva, nem de mágoa, nem de doença, eu quero morrer na luta”. E assim se foi. Brincava com as palavras como joias preciosas, como se estivesse regendo uma orquestra.
Em 1991, quando enfrentou insucesso em suas pretensões políticas, afastou-se apenas naquele momento, mas produziu uma joia literária que foi intitulada de “Oração do Adeus”. Os políticos de hoje, muitos enlameados na corrupção, deveriam ter este texto como leitura de cabeceira.
“Na política, mais difícil do que subir é descer. E descer não carregando o fardo pobre da vergonha. Descer não desmoralizado. Não descer com a alma apodrecida. Desço, vou para a planície, mas não vou para casa. Vou morrer fardado, não de pijama. Política se faz na rua ou com a rua. Vou para a rua porque o desgoverno desgoverna a rua”.
Foi este grande iluminado estadista que em 19 de agosto de 1987, na presidência da Câmara dos Deputados, assim saudou a Maçonaria.
“A Maçonaria sempre se fez presente nos momentos marcantes. A evolução histórica desta instituição é um testemunho do quanto pode o ideal humano. Organização com ideal construtivo, conceituada a partir de uma das mais dignas profissões, a de pedreiro, haveria de possuir trajetória invulgar, solidamente ligada aos destinos da raça humana.
Bastaria lembrar o papel exercido pela Maçonaria no período mais fértil da história, quando nasceu a moderna democracia. Foram maçons personalidades como Condorcet e Laplace, Mirabeau, Camille Desmoulins, Danton, Marat e La Fayette, nomes da primeira linha da Revolução Francesa, movimento que descortinou para o mundo novos padrões de organização social e uma nova forma de relacionamento político, copiados depois por todas as nações em vias de modernização.
A Maçonaria, comprometida com o ideal de liberdade ao longo dos tempos, desempenhou papel decisivo na independência de vários países da América Latina. Na verdade, ela foi instrumento de difusão das idéias de independência de todas as colônias espanholas. Sabemos que o ideal maçônico permeou no Brasil os movimentos libertários mais importantes do final do século XVIII e começo do século XIX. No Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, sociedades secretas foram a base das comunicações entre os intelectuais influenciados pelas novas ideias europeias.
A Inconfidência Mineira recebeu forte influência das idéias proclamadas pelos maçons da época. De fato, eram maçons vários inconfidentes, como também o era Domingos José Martins, um dos chefes da Revolução Pernambucana de 1817.
Igualmente, foi o papel da Maçonaria na consolidação da Independência, quando se avultaram os nomes de José Bonifácio e Gonçalves Lêdo. Rivais na política e na influência que pretendiam exercer sobre o imperador, irmanavam-se entretanto na sua brasilidade, no fervor emancipacionista que fez medrar a pátria nascente.
Ao final do século passado aparecem associados à direção do Grande Oriente do Brasil, senador Vergueiro, visconde do Rio Branco, conselheiros Saldanha Marinho e Silveira Martins. Na República grandes republicanos de primeira hora, maçons Quintino Bocaiúva, Lauro Sodré e Nilo Peçanha”.
Aos apreciadores de bons discursos, frases inteligentes, sugiro que busquem a “Seleção de Textos, Introdução e Comentários” do jornalista Luiz Gutemberg, que contém centenas de discursos de Ulysses Guimarães e a vida deste grande brasileiro, no seguinte endereço do Centro de Documentação e Informação – Edições Câmara, para baixar clique aqui.
Com a missão de estar integrando, desde 1978, o Grande Oriente do Brasil, agora e nos últimos dois anos como Grão-Mestre Geral Adjunto, ao lado do Grão-Mestre Geral, Marcos José da Silva, concluo este artigo, com a consideração e saudação deste estadista exemplo para os políticos de hoje.
“Ao saudar a Maçonaria Brasileira, pelo transcurso de sua data maior, faço-o em meu nome pessoal e em nome desta presidência. Faço-o com especial emoção e a certeza de que estamos rendendo graças a um legítimo símbolo nacional, inspirador dos nossos ideais mais nobres, tradicional sentinela da liberdade e da serena altivez que vimos cultivando perante os países do mundo”.