Artigo 286 – Barbosa Nunes
Este era um casal histórico e indissolúvel, mas que agora se separam. Pelos preços de um ou de outro, especialmente do feijão que transformou-se de gênero alimentício simples, presente nas mesas com poucas condições, hoje alimento nobre e de luxo. Feijão que cantamos em nossas infâncias e nos teatros infantis.
“Um, dois, Feijão com arroz; Três, quatro, Feijão no prato; Cinco, seis, Feijão inglês; Sete, oito, Comer biscoito; Nove, dez, Comer pastéis. Onze, doze, fazer uma Pose”.
No tempo do Cruzeiro, a sambista Beth Carvalho, já se espantava cantando na musica de sua autoria, “Saco de Feijão”.
“Meu Deus mas para que tanto dinheiro, Dinheiro só pra gastar, Que saudade tenho do tempo de outrora, Que vida que eu levo agora, Já me sinto esgotado, E cansado de penar, meu Deus. Sem haver uma solução, De que me serve um saco cheio de dinheiro, Pra comprar um quilo de feijão. Me diga gente, De que me serve um saco cheio de dinheiro, Pra comprar um quilo de feijão. No tempo dos “merréis” e do vintém, Se vivia muito bem, sem haver reclamação, Eu ia no armazém do seu Manoel com um tostão, Trazia um quilo de feijão.
Depois que inventaram o tal cruzeiro, Eu trago um embrulhinho na mão, E deixo um saco de dinheiro, Ai, ai, meu Deus!”
João Cabral de Melo Neto, diplomata e poeta pernambucano, falecido em 1999, produziu um poema intitulado “Catar Feijão”, uma analogia ao processo da escrita, afirmando que o ato de colocar o feijão na água, se assemelha ao ato de colocar as idéias no papel. No caso de catar feijão, os grãos que bóiam são os grãos impróprios para o uso e os que permanecem no fundo da água, são os grãos densos, saudáveis e que servirão de alimento. O cuidado ao catar feijão se dá quando se separa de forma cautelosa os grãos sadios dos podres, de algum cisco ou pedras. Ao lançar as idéias no papel, as palavras de maior peso, são as que darão beleza e sentido ao escrito.
Faço aqui a comparação do feijão com os políticos atuais. Jogados à água, com certeza absoluta, boiarão, pois são impróprios, podres, com ciscos e pedras, alguns poucos serão densos e permanecerão no fundo.
O feijão em suas mais diversas variedades é considerado como um dos mais antigos alimentos utilizado pelo homem, tornando-se parte importante da dieta de várias civilizações.
Descobertas arqueológicas que datam aproximadamente de 10.000 a.C., sugerem que o feijão cultivado tenha sua origem na América do Sul, mais precisamente no Peru, em um local conhecido como sítio arqueológico Caverna Guitarrero e posteriormente levados para regiões mexicanas, onde os vestígios encontrados indicam que o feijão fora domesticado desde 7.000 a.C.
Quase todos lugares da terra tem seus tipos específicos de feijões, onde tiveram importante papel na formação sócio cultural de várias civilizações, seja por motivos religiosos, sociais ou meramente alimentícios. Na Roma antiga os feijões eram utilizados como moedas em jogos de apostas e na elaboração de sofisticados pratos para Imperadores. Algumas tribos indígenas da América do Norte consideravam o feijão como um dos três “irmãos” que eram responsáveis pela base de sua alimentação: feijão, milho e abóbora. Os budistas, na busca de uma dieta ideal, onde não contavam com carnes, encontraram no feijão um grande aliado para manter sua alimentação saudável. Na Grécia clássica, o feijão era oferecido como um lanche em simpósios, quando os homens se reuniram para discutir política ou filosofar depois do jantar.
No Brasil, o consumo de feijão não poderia ser diferente de muitos países, onde é um dos principais pratos que formam a base alimentar. O famoso prato de feijão com arroz torna como o mais típico prato da culinária brasileira. Os mais conhecidos no Brasil são: Feijão preto, roxinho, fradinho, mulatinho, branco, rosinha, verde, carioca, entre outros. Os mais consumidos pelos brasileiros são o carioca, preto e o roxinho. O feijão é responsável por um dos pratos mais famosos da culinária mundial, a Feijoada.
A feijoada é um dos pratos típicos mais conhecidos e populares da culinária brasileira. Composta basicamente por feijão preto, diversas partes do porco, linguiça, farinha e o acompanhamento de verduras e legumes, ela é comumente apontada como uma criação culinária dos africanos escravizados que vieram para o Brasil.
Historiadores e especialistas da culinária indicam que esse tipo de prato ? que mistura vários tipos de carnes, legumes e verduras ? é milenar. Remonta possivelmente da área mediterrânica à época do Império Romano. Mas a feijoada tem as especificidades da culinária brasileira. O feijão preto é originário da América do Sul e era chamado pelos guaranis de comanda, comaná ou cumaná.
O famoso folclorista brasileiro Carlos Alberto Dória, indica que a feijoada como a conhecemos, composta de feijão, carnes, hortaliças e legumes, seria uma combinação criada apenas no século XIX em restaurantes frequentados pela elite escravocrata do Brasil. Sua difusão teria se dado em hotéis e pensões, principalmente a partir do Rio de Janeiro.
Então, adotemos aquela máxima de quando as visitas são inesperadas e em maior número, providenciando “mais água no feijão”, mas agora, é pelo preço, “mais água no feijão”!
Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br