As palavras formadas com o sufixo “eiro”, designam pessoas que agem, pessoas que fazem no campo profissional, geralmente sem muito destaque. Pedreiro, funileiro, jardineiro, borracheiro, porteiro, jornaleiro, carteiro, com algumas exceções como bombeiro e engenheiro. O sufixo “ano” é relativo ou pertencente a; natural ou habitante de um local. Com este introito abro o artigo desta semana fazendo uma pesquisa sobre ser brasileiro ou brasiliano.
Stephen Kanitz é consultor de empresas, conferencista, articulista da Revista Veja, Seção Ponto de Vista, ex comentarista econômico da TV Cultura e escritor de vários livros entre eles “O Brasil que dá certo”. Em um dos seus artigos publicado em 26 de dezembro de 2007, na Revista Veja, intitulado “Somos Brasileiros ou Brasilianos”, época em que a corrupção ainda não era revelada como nos dias de hoje, ele diz:
“Por 500 anos mentiram para nós. Esconderam um dado muito importante sobre o Brasil. Disseram-nos que éramos brasileiros. Que éramos cidadãos brasileiros, que deveríamos ajudar os outros, pagando impostos sem reclamar nem esperar muito em troca. Esconderam todo esse tempo o fato de que o termo brasileiro não é sinônimo de cidadania, e sim o nome de uma profissão. Brasileiro rima com padeiro, pedreiro, ferreiro.
Brasileiro era a profissão daqueles portugueses que viajavam para o Brasil, ficavam alguns meses e voltavam com ouro, prata e pau-brasil, tiravam tudo o que podiam, sem nada deixar em troca. Brasileiros não vêem o Brasil como uma nação, mas uma terra a ser explorada, o mais rápido possível. Investir no país é considerado uma burrice. Constituir uma família e mantê-la saudável, um atraso de vida.
São esses brasileiros que viraram os bandidos e salafrários de hoje, que sonham com uma boquinha pública ou privada, que só querem tirar vantagem em tudo. Só que você, caro leitor, é um brasiliano. Brasiliano rima com italiano, indiano, australiano. Brasiliano não é profissão, mas uma declaração de cidadania. Rima com americano, puritano, aqueles abnegados que cruzaram o Atlântico para criar um mundo melhor, uma família, uma nova nação. Que vieram plantar e tentar colher os frutos de seu trabalho, sempre dando algo em troca pelo que receberam dos outros. Gente que veio para ficar, criar uma comunidade, um lar. Que investiu em escolas e educação para os filhos e produziu para consumo interno.
Foram os brasilianos que fizeram esta nação, em que se incluem índios, negros e milhões de imigrantes italianos, espanhóis, japoneses, portugueses, poloneses e alemães que criaram raízes neste país. Brasilianos investem na Bolsa de Valores de São Paulo. Brasileiros investem em offshores nas Ilhas Cayman ou vivem seis meses por ano na Inglaterra para não pagar impostos no Brasil. Brasileiros adoram o livro “O Ócio Criativo”, de Domenico de Masi, enquanto os brasilianos não encontram livro algum com o título “O Trabalho Produtivo”, algo preocupante.
Como dizia o ministro Delfim Netto, “o sonho de todo brasileiro é mamar nas tetas de alguém”. Quem está destruindo lentamente este país são os brasileiros, algo que você, leitor, havia muito tempo já desconfiava. Infelizmente, o IBGE não pesquisa a atual proporção entre brasileiros e brasilianos neste país. São as duas classes verdadeiramente importantes para entender o Brasil.
Mais importante seria saber qual delas está aumentando e qual está diminuindo rapidamente, uma informação anual e estratégica para prevermos o futuro crescimento do país. Não vou fazer estimativa, deixarei o leitor fazê-la com base nas próprias observações, para sabermos se haverá crescimento ou somente a continuação do “conflito distributivo” deste país. O eterno conflito entre aqueles que se preocupam com a geração de empregos e aqueles que só pensam na distribuição da renda. Os brasilianos desta terra não têm uma Constituição, que ainda é negada a uma parte importante da população.
Uma Constituição feita pelos verdadeiros cidadãos, que estimule o trabalho, o investimento, a família, a responsabilidade social, a geração de renda, e não somente sua distribuição. Uma Constituição de obrigações, como a de construir um futuro, e não somente de direitos, de quem quer apenas garantir o seu. Precisamos escrever e reescrever nossos livros de história.
Em vez de retratarmos o que os brasileiros (não) fizeram, precisamos retratar os belos exemplos e contribuições do povo brasiliano para esta terra. Um livro sobre a História Brasiliana, da qual teríamos muito que nos orgulhar. Vamos começar 2008 tentando ser mais brasilianos e menos brasileiros. São 500 anos de cultura brasileira que precisamos mudar, a começar pela nossa própria identidade, pelo nosso próprio nome, pela nossa própria definição”.
No site vagas.com.br, Guss de Lucca, escreveu: “Por que somos brasileiros e não brasilienses ou brasilianos? De acordo com a cultura popular, é porque em algum momento da nossa história, brasileiro foi uma profissão, como padeiro, ferramenteiro e os outros “eiros”. Será que essa informação procede?
“Sim, procede.” A afirmação é da historiadora Gislane Azevedo, que trabalha como escritora de livros didáticos de história para alunos do ensino básico, além de já ter lecionado nas redes pública e privada.
“O termo brasileiro começou a ser empregado aqui no Brasil ainda no século 16. Era utilizado para designar os comerciantes portugueses que vinham para cá a fim de levar para a Europa o pau-brasil. Ou seja, brasileiro era o comerciante de pau-brasil”, explica ela.
Ofensa chamar alguém de brasileiro?
De acordo com o também historiador José Murilo de Carvalho, nos séculos que seguiram após a chegada oficial dos portugueses ao Brasil era ofensa chamar alguém de brasileiro. Os portugueses nascidos desse lado do Atlântico preferiam ser chamados de “portugueses do Brasil” ou “luso-americanos”.
Questionada sobre os sinônimos para a palavra brasileiro, caso de brasiliense, brasilense, brasílico e brasiliano, Gislane conta que apesar de raramente usados, eles já fizeram parte da vida cotidiana em alguns momentos.
“Todos esses termos eram também utilizados para se referir às pessoas nascidas no Brasil. Basta lembrar que o primeiro jornal do País, publicado em 1808, chamava-se Correio Braziliense (e não Correio Brasileiro). Porém, com o tempo e com o uso, o termo brasileiro acabou se consolidando”, relata.
Então, onde estão e quem são os verdadeiros brasileiros? Estão sobretudo, em Brasília e nas administrações públicas federias, estaduais, municipais, nas empresas privadas, institucionalizando a maior corrupção da história do Brasil. Levando tudo. Assacando os cofres, como nossas riquezas foram tiradas.
Poderíamos citar genuinamente brasileiros, enquadrados no tema abordado por esse artigo, centenas que estão sendo investigados, processados e dezenas já presos. Cito como o símbolo do “brasileiro”, aquele que às escondidas, usando imoralmente o cargo de ministro da Fazenda, que ocupou por mais de 8 anos e a quem estava subordinada a Receita Federal, que implacavelmente com seu “leão” tira mensalmente do povo brasiliano, especialmente dos funcionários públicos, seus pagamentos no Imposto de Renda.
Quem é ele, que levou às escondidas 600 milhões não declarados? É o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Este é um brasileiro como foram os portugueses que para cá vieram.
Os 15 milhões de desempregados, os que enfrentam a tortura de procurar saúde, segurança, educação, os empresários corretos e honestos que estão segurando a inflação com a produção do setor agroindustrial, estes são brasilianos. Estão a construir a pátria onde nasceram, contrariamente aos brasileiros que destroem nossa nação, colocando-a mundialmente como o país onde se pratica a maior corrupção mundial.
Barbosa Nunes, advogado, ex–radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br